quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Prêmio Dardos




Este é o "Prêmio Dardos" que dá a cada blogueiro

o reconhecimento de seu valor, esforço, ajuda,
transmissão de conhecimento todos os dias.
Ganhei, mas você também merece!
E tem suas regrinhas:
1. Você terá que aceitar o award e colocar em seu blog,

juntamente com o nome da pessoa que
he deu o prêmio e o link do seu blog
O blog Curador Supremo Recebeu indicação dos blogs Mandala Astral e Aprender-Cursos à Distância.
Você terá que oferecer o prêmio para 10 blogs que
são merecedores deste prêmio. E não se esqueça
de avisá-los sobre o merecimento deste prêmio.
Foi oferecido a:



http://aprendercentrodeestudos.blogspot.com

http://espacoganeshaterapias.blogspot.com

http://mandalastral.blogspot.com

http://amigoscomoirmaos.blogspot.com

http://candrakaladd.blogspot.com

http://afilosofiamor.blogspot.com

http://marymassoterapia.blogspot.com

http://vydasanna.blogspot.com

http://padmashanti.blogspot.com

http://tsaraciganopablo.blogspot.com


Prêmio Dardo

Gipsy!






Os ciganos

J

á ocorreram cinco séculos desde que os ciganos entraram na Europa, vindos sem saber ao certo de que região, nascidos sem se conhecer de quem, com ar de um povo condenado; duma raça de peregrinos que chegasse para expiar, pelas estradas de todo o mundo, uns velhos e tremendos pecados não podendo ligar-se à mesma terra nem morrer na cama onde nascera, como se trouxesse um selo fatal. Eles mesmos  os ciganos  disseram, ao começo, que assim era; que andavam pagando antigas culpas, foragidos da pátria, mas com o fundo arteiro da raça nunca trataram da casta dos seus velhos erros. Homens e mulheres, num lamuriar humilde, a comoverem a piedade desse século cristão, cheio de fé, disseram que vinham do Egito, da terra onde estivera o menino Jesus e falando da Virgem Nossa Senhora, como se a estivessem vendo, conseguiram abrigos e provisões, guardando no fundo ciosamente o seu segredo. Inventavam-se-lhe ascendências entre os grandes culpados doutras idades: eram a tribo dos Caanitas, expulsa por Josué, ou eram de uma gentalha inferior da Índia; vinham dos foragidos de Suigara à chegada do Apóstata Julião ou dos que tinham sido escorraçados das velhas terras hindus pelas hostes tamerlânicas. Depois aceitou-se que era dos índios de Sindi enxotada por alguma culpa ou diante de algum cataclismo, toda essa gente de olhos esbraseados e inquietos, as faces brônzeas, o espírito arteiro, o corpo ágil, e que falava um idioma tão estranho e tão secreto que ainda hoje é o menos divulgado, como se fosse a língua usada para alguma cabala terrível. Passadas as épocas sem lhes modificar o espírito, sem lhes mudar as tendências, eles aí andam pelo mundo; com os seus nomes dum sabor antigo, ressoantes e bárbaros, com o seu eterno ar de mistério que seduz e atrai, que nos leva para eles com uma vontade enorme de saber das suas idéias e dos seus feitos. Acampados pelas estradas no rigor dos invernos ou na doçura das primaveras, eles têm sempre o mesmo ar, guardam o mesmo pitoresco. As suas belas mulheres trabalhando nos arranjos da tribo, as crianças esmolando, os homens andando nas tosquias do gado ou na venda de alimárias, encontram conhecidos em todas as terras, em algumas até compadres, porque o cigano batiza catolicamente os filhos, tantas vezes quanto possível, a fim de receber dos padrinhos as baetas, o enxoval da criança que ao nascer, diz a lenda, é logo batizada a valer. Parece que a mergulham na água corrente, com palavras que significam: Eu te batizo neste ribeiro para que seja um cigano perfeito...

Nos casamentos têm os ciganos o seu ritual pagão, mas hábil, porque se a sua moral é larga para os delitos de roubo e assassínio, é estreita, em demasia talvez, para a infidelidade à raça e daí vem o mistério tão bem guardado da sua origem e do seu idioma e o abandono total da mulher que atraiçoa o companheiro. Essas lindas ciganas de olhos de brasa, cujos corpos nervosos têm requebros lânguidos de bailadeiras, podem viver aquela vida de misérias, atravessar os caminhos mais terríveis, inspirando os maiores amores, que são sagrados sempre para o cigano até à hora do consórcio, que para se fazer necessita da firmação da sua virgindade feita por três chefes. Uma velha da tribo, a quem chamam a Peliche, recolhe-se por momentos com a noiva e traz dentro em pouco com um lenço  a que se dá o nome de lençol de honra  a prova duma honestidade que ela jura ter existido naquela que vai ser a esposa do cigano. Três chefes, porque as tribos são governadas e os ciganos têm reis, dão a licença para o enlace. Desde logo se atira ao ar a bilha tradicional cujos cacos se guardam como se em vez de restos de barro fossem de rara louça e assim ficam casados aqueles dois entes que vão fazer a sua vida por essas estradas sem fim do mundo lado a lado. As tribos errantes no dia dos casamentos armam as suas tendas como arraiais fronteiros; dum lado a gente do noivo, de outro a da noiva, estando a Peliche já atenta. Em volta as crianças olham espantadas da festa; as mulheres  cailardós  de cabelos cortados, por serem viúvas, evocam o seu tempo feliz, as raparigas com as molhadas de saias enfeitadas com fitas de cores garridas preparam-se para a folia. Os cavalos, os burros, os animais da tribo pastam no campo e como numa cena primitiva cozinha-se o jantar sobre duas pedras. O sol brilha no alto, porque a festa cigana carece de luz. Os chefes com as suas barbas alvas quadrando o bronzeado da tez saem gravemente da tenda da noiva com a Peliche, entregam o lençol de honra ao pai do noivo e de súbito vê-se aparecer a mulher, com seus melhores vestidos; com as suas jóias sorrindo para seu escolhido que está no campo fronteiro. De súbito ressoa um grito, um incitamento: Pilha que é tua!... Ele salta lesto numa corrida; ela foge-lhe até que os braços musculosos do homem a seguram, a levam, a arrastam como num rapto. Assim se unem esses ciganos ágeis, bons cavaleiros, atrevidos com as ciganas de olhos de luz, lindas ledoras de buenas dichas e cuja beleza vai murchar dentro em pouco por uma estranha condição dessa raça.

A ciganagem tem suas traças seculares já sabidas e que mal já servem, como seja a de picarem com uma agulha entre os dedos os velhos cavalos sem nervos ou pintarem o gado de tal forma que às vezes o vendem aos antigos donos sem que eles o conheçam, mas as melhores das suas partidas são as que surgem de momento e com que vão enganando os mais sabidos. As ciganas servem-se da sua arte de leitoras de sinas para apanharem dinheiro, no jogo da carriola ou por outros meios que no fim são da sua indústria, como a venda das fazendas fingindo contrabando e de outros artigos em que sempre têm ganho.

Amadas pelos poetas, queridas pelo mistério que as envolve, as tribos ciganas vão sempre correndo o mundo, andam pela Hungria, como por Espanha, por Portugal, como pela França, na Itália e na Inglaterra, chamando-se boêmios ou gitanos, ciganos ou romanichels, zíngaros ou gypsios, zigner ou cikan, desprezando a terra e amando a vagabundagem, deixando as casas que lhes deram na Boêmia para dormirem sob a tenda, fugindo aos afagos da rainha da Romênia, que os queria ligar e dar trabalho, para irem pelos campos com seus ursos domesticados, nos seus misteres de pelotiqueiros. Sacrifica-se o cigano pelo cale  o da sua raça. Odeia num instinto de jambo  o estranho. As mulheres não se domam a estes, e se Margarida do Monte foi amante de D. João V, não diz a tradição se ela o amava. Em Inglaterra, uma cigana, feita lady, abandonou o seu palácio, as suas galas, as suas carruagens, para ir ser a romi, a mulher do cigano aventureiro. Na Hungria, um valoroso rapaz dessa raça chegou a coronel do exército; um dia desapareceu, desertou, foi para sua tribo, foi para os gozos da sua v ida errante. Ao ver-se passar uma dessas tribos que se arrastam pelo mundo, como há dias os ciganos sérvios, que entraram em Lisboa com seus ursos amolentados, com as suas mulheres, com um bando famélico de crianças, que choram e têm olhos desconfiados, ao reparar-se nos velhos trôpegos que as acompanham e têm corrido a Europa de lês em lês, há uma ansiedade de saber se não irá ali um rei, um dos seus soberanos, aquele que tem todo o poder, a quem vários grupamentos obedecem e que em França é designado pelo título de rei d´Arnac. Ao olhar-se uma dessas velhas, com ares de feiticeiras, emagrecidas e de bocas cínicas, que nos pedem a mão para lerem a buena dicha, há também a vontade de lhe perguntar se ela não será a soberana das ciganas, aquela a quem chamam a rainha de Coestre. E como são iguais nos trajos, como sofrem das mesmas misérias, a nossa fantasia faz dos que têm mais grave aspecto os reis e as rainhas, os eleitos por eles nos mistérios das florestas, quando o velho rei ou a antiga rainha morrem como esse Esaú Smith, de 86 anos, que era o chefe dos gypsos de Inglaterra, ao qual sucedeu uma rainha; que, nos dias das corridas de Epsom, arma a sua tenda no alto da colina e vê desfilar toda a fidalguia inglesa que mal suspeita dum sangue nobre na raça vagabunda que anda a penar pelo mundo uns ruins feitos de outras eras.

Todo esse mistério, toda essa vida de aventuras, os seus ditos e as suas proezas, levam-nos para eles, dá-nos vontade até de os ver em cólera, porque são belos neste estado, ao bradarem numa frase, que é quase sempre um desabafo: Te amarello con uma chouri! Mato-te com uma faca! Eis o que lês querem exprimir; numa imprecação apenas, porque o cigano geralmente não se ataca entre si. As divergências das tribos liquida-as o chefe e se acontece serem presos pela polícia das terras que atravessam ou se são julgados pelos tribunais e, embora absolvidos, recebem dos seus chefes os castigos que a sua lei impõe, na maioria dos casos, o castigo corporal, que o culpado humildemente recebe desde que o superior lho administre. É usual ver-se um cigano, castigado assim, após a saída das mãos da autoridade legal e há a resposta célebre dum conhecedor dos seus costumes ao qual se perguntava a razão desse castigo: Ah! É para não se deixarem agarrar! E a resposta é boa, porque as melhores condições dos ciganos é serem ligeiros e ardilosos.

Metomo  o chefe cigano de Espanha  teve ardis para escapar durante anos à tropa que o procurava prender.

Era um tipo curioso de salteador das estradas; um bandoleiro atrevido e audacioso, ligeiro como o gamo, altivo como um rei, moreno e galhardo, que assaltava os viandantes nos caminhos desculpando-se com uma frase que dá nota de seu espírito. Não roubo  dizia Metomo  peço emprestado àqueles que têm mais do que eu!

No fundo expressava talvez a moral de sua raça perseguida, escorraçada que vai de monte em monte, de cidade em cidade, de país em país, sempre alcançada pela desconfiança de que tentem esses empréstimos de Metomo, a que Proudhon, com mais propriedade, chamava restituições.

Têm estranhas superstições; não jogam com cartas porque têm mala page  má sorte  visto as cartas serem sempre os emblemas misteriosos, onde se lê o futuro. Não gostam de vinho em grandes quantidades nem de bebidas espirituosas, mas adoram os doces como a vida ao ar livre e o sol, que é como o seu Debel  o Deus  e a sua mulher de quem dizem com amor: En las farsidoras de mi romi sorbelo.  Durmo nas saias de minha mulher.