sábado, 25 de julho de 2009

Shiva Om



Os atributos do Senhor Shiva Shankara


Deus da destruição do Universo, o principal do Xamanismo Ancestral.

Em Sânskrito escreve-se Siva, mas se lê Shiva.

O Senhor Shiva é um Deus ("Mahadeva") Hindu, o Destruidor ou o Transformador, integrante da Trimurti juntamente com Brahma, o Criador, e Vishnu, o Preservador. O Senhor Shiva representa o ciclo completo do processo de geração, destruição e regeneração. Existem mil e oito nomes nas escrituras védicas para se referir ao Senhor Shiva, sendo as mais conhecidas: Mahesha, Mahadeva, Pashupati, Nataraja, Shambo, Shankara, Ardhanaríshvara, Rudra, Bhava, Sarva, Ishan, Bhima e Ugra.

No Xamanismo Ancestral, o Senhor Shiva é a figura mais importante, não apenas por representar o Pai do Xamanismo Ancestral, mas por possuir essencialmente múltiplas formas e aspectos em um único poder divino.

Sua simbologia é altamente venerada. O aspecto Shankara é a forma xamã do Senhor Shiva, que o representa como sendo um grande índio Hindu e o maior devoto do Grande Espírito, o Senhor Krishna.

Sua simbologia é representada de diversas maneiras, através de diversas escrituras e de diversas escolas filosóficas, entretanto, as características xamânicas do Senhor Shiva mais importantes são representadas aqui da seguinte forma:

Sentado sob a pele de um Tigre:

O Tigre é o veículo de sua shákti, a Deusa de todas as forças e poderes. Shiva está além e acima de qualquer força. Sentado sob a pele de um Tigre, simboliza a vitória sobre todas as forças.

A Serpente Naja sobre o pescoço:

A Naja é a mais mortal das Serpentes. Usar uma Serpente em volta da cintura e do pescoço, simboliza que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal. Este aspecto também dá outro nome a Shiva, Neelkantha, o Deus que pode beber sozinho a porção da morte e ficar livre de seus efeitos. Na tradição do Yoga, ela também representa Kundalini, a energia de Fogo que reside adormecida na base da coluna. Quando despertamos essa energia, ela sobe pela coluna, ativando os centros de energia (chakras) e produzindo a iluminação (samadhi), um estado de consciência expandida.

A Lua crescente em seu cabelo:

A Lua, que muda de fase constantemente, representa a ciclicidade da natureza e a renovação contínua, a qual todos estamos sujeitos. Ela também representa as emoções e nossos humores, que são regidos por esse astro. Usar uma Lua crescente nos cabelos simboliza que Shiva está além das emoções. Ele não é mais manipulado por seus humores como são os humanos, ele está acima das variações e mudanças, ou melhor, ele não se importa com as mudanças, pois sabe que elas fazem parte do mundo manifesto. Os mestres que se iluminaram afirmam que as transformações pelas quais passamos durante a vida (nascimento e morte, o final de uma relação, mudança de emprego, etc.) não afetam nosso verdadeiro ser e, portanto, não deveríamos nos preocupar tanto com elas. Este aspecto significa então, que Shiva possui o poder da procriação, além da destruição.

O cabelo enrolado no topo da cabeça:

O cabelo enrolado de maneira circular no topo da cabeça significa que Shiva é o senhor do vento, Vayu, representando o controle da respiração, o simples ato de inspirar e expirar.

O sagrado rio Ganges nascendo de sua cabeça:

No topo da cabeça de Shiva se vê um jorro d’água. Na verdade é o rio Ganges ou Ganga, que nasce dos cabelos de Shiva. Há uma história que diz que Ganga era um rio muito violento e não podia descer à Terra pois a destruiria com a força do impacto. Então, os homens pediram a Shiva que ajudasse, e ele permitiu que o rio caísse primeiro sobre sua cabeça, amortecendo o impacto e depois, mais tranqüílo, corresse pela Terra.

O tridente (TRISHULA):

Trisula
O Trishula de Shiva é o símbolo das três funções do Criador (Brahma), Preservador (Vishnu) e o Destruidor (Shiva). É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas também representam as três qualidades da existência: tamas (a inércia ou ignorância), rajas (o movimento ou paixão) e sattva (o equilíbrio ou bondade).

O Touro Branco:

NandiNandi é o Touro Branco que acompanha Shiva, sua montaria e seu mais fiel servo. O Touro está associado às forças telúricas e à virilidade. Também representa a força física e a violência. Montar o Touro Branco, significa dominar a violência e controlar sua própria força.

A palavra Nandi significa, “aquele que dá a alegria”. Sua devoção por seu senhor é tão grande que sempre se encontra sua figura diante dos templos dedicados a Shiva. Ele está sempre deitado, guardando o portão principal do templo.

O Lingam:

LingamTambém chamado de Linga, é o símbolo fálico de Shiva. Ele representa o pênis, o instrumento da criação e da força vital, a energia masculina que está presente na origem do Universo. Está associado ao poder criador de Shiva. A palavra Lingam significa, “emblema, distintivo, signo”.

O Lingam é o emblema de Shiva. Na Índia, reverenciar o Lingam é o mesmo que reverenciar a Shiva. Ele pode ser feito em qualquer material, embora o preferido seja o de pedra negra. Na falta de uma escultura, se constrói um Lingam com a areia da praia ou do leito do rio, ou simplesmente se coloca em pé uma pedra ovalada.

É comum, nos templos, se pendurar sobre o Lingam uma vasilha com um pequeno orifício no fundo. A água é derramada constantemente sobre ele numa forma de reverência. A base do Lingam representa a yoni, o genital feminino, mostrando que a criação se dá com a união do masculino e feminino.

O tambor Damaru:

Tambor DamaruO tambor em forma de ampulheta representa o som da criação do Universo. No Xamanismo Ancestral, como no Hinduísmo, o Universo brota da sílaba “Om” (AUM). É interessante comparar essa afirmação com o conhecido prólogo do Evangelho de São João: “No princípio era o Verbo (a sílaba, o som). E o Verbo era Deus. (...) Tudo foi feito por Ele (o Verbo) e sem Ele nada se fez”.

É com o som do Damaru que Shiva marca o ritmo do Universo e o compasso de sua dança. Às vezes, ele deixa de tocar por um instante, para ajustar o som do tambor ou para achar um ritmo melhor e, então, todo o Universo se desfaz e só reaparece quando a música recomeça.

Kamandalu:

KamandaluO vaso de bronze, conhecido como Kamandalu é o repositório onde Shiva guarda o amrita, a bebida da imortalidade, similiar à ayahuasca no Ocidente.

O amrita é sempre utilizado entre os xamãs ancestrais em rituais e pujas (cerimônias de adoração) para se conectar à essência divina e receber os ensinamentos sagrados de Shiva.

As escrituras sagradas da Índia, os Vedas, afirmam que dentro do Kamandalu está o néctar divino, o amrita, a bebida da imortalidade, ou como os cristãos nomearam, “a água da vida”.

Além destes símbolos, uma outra característica física muito importante de Shiva é o seu “Olho Vertical”, também conhecido como “Terceiro Olho”. No Mahabharata, o grande épico Hindu, é narrada a história de como Shiva obteve seu terceiro olho. A história diz que um dia sua linda esposa, Parvati, colocou suas mãos sobre seus olhos enquanto Ele meditava, pois toda vez que Shiva fechava os olhos, o Universo inteiro ficava em total escuridão. Então, através do toque das mãos de sua esposa que seu terceiro olho se desenvolveu, dando luz ao mundo. Simbolizando assim, o olho frontal, o olho de Fogo, o olho da alta percepção. Tendo então três olhos, Shiva ficou também conhecido como: Tri-Netra, Tri-Ambaka, Tri-Aksha ou Tri-Nayana.

Akaiê Sramana - autor do livro Xamanismo Ancestral - O legado da Índia antiga
Autor: Akaiê Sramana
[Fonte: " Xamanismo Ancestral - O legado da Índia antiga", Akaiê Sramana]

Jaya





Oração a Ganesha, o Guardião da Passagem


"Jai Ganesha, Jai Ganesha, Jai Ganesha Deva
Mata Shri Parvai, Pita Mahadeva
Jai Ganesha, Jai Ganesha, Jai Ganesha Deva
Ek danta, dua danta, char bhuja dhari
Kapal bhari raato sindoor musa ko sawari
Jai Ganesha, Jai Ganesha, Jai Ganesha Deva"

"Oramos a ti Ganesha, Pai dos Deuses
Sua mãe é a senhora Parvati, seu pai Mahadeva
Oramos a ti Ganesha, Pai dos Deuses
Você que tem dois tipos de dentes e quatro braços fortes
Você que tem vermillion na testa
E cavalga em um rato
Oramos a ti Ganesha, Pai dos Deuses"


O rabanete (Raphanus Sativus ou Radicula), é a planta sagrada do Deus Elefante. Ele pode ser visto em máscaras ou em ilustrações pictográficas. Mas, na verdade, não há nenhuma relação real com o rabanete. Ao invés disso, trata-se de uma planta chamada "ban mula" (rabanete selvagem), "daling", "belu chare" ou "pangla bung". O gosto é similar ao do rabanete. Ela é comida afoitamente pelos xamãs, já que seu consumo fortalece o shakti (energia vital).

Essa planta é um símbolo de Ganesha: é metade animal, metade vegetal. O rabanete selvagem é metade raiz, metade folhas, assim é um símbolo similar à mandrágora da Europa.

Shiva designou Ganesha como o guardião de passagens, cruzamentos e portais de todos os tempos e mundos possíveis. Projetado no corpo humano, Ganesha também é o Protetor dos Chakras. Ele guarda a entrada do chakra sexual, a fonte do poder xamânico curador. Esse chakra fundamental (muladhara chakra) é a fonte de toda a energia (shakti), sem o qual nenhum ser humano pode viver.

Essa é a diferença entre humanos e xamãs. Humanos que não praticam Tantra ou Kundalini Yoga não são capazes de canalizarem conscientemente essa energia. Já os xamãs transformam-na em amor incondicional e consciência universal.

A energia (shakti) nasce no chakra sexual. Dali ela ascende para o chakra do coração, onde é transformada em amor. Esse é o poder curador xamânico. Se a energia subir mais, até o chakra frontal, da testa, a energia-amor se transforma no estado desperto. Alguém só é um ser humano completo quando todos os chakras se conectam um ao outro pela energia fluindo.

A origem do mundo é a psicoatividade. A origem do xamanismo é Shiva. A origem das substâncias psicoativas é o amrita, o Elixir da Vida. Shiva é o Senhor das Plantas Intoxicantes e o Deus da Psicoatividade. A origem da criatividade é a psicoatividade. Apenas um espírito que é movido pode mover alguma coisa.

Akaiê Sramana - autor do livro Xamanismo Ancestral - O legado da Índia antiga

" Xamanismo Ancestral - O legado da Índia antiga", Akaiê Sramana

Ganesha


Ganesha - O primeiro xamã




As escrituras sagradas da Índia relatam que uma certa vez, Shiva passou diversas eras na montanha sagrada de Kailash, concentrado em si mesmo e na criação. Seu Lingam de fogo sem fim, alcançando o infinito, já havia demonstrado sua precedência e poder a Vishnu e Brahma, seus dois colegas divinos.

Quando Shiva tomou consciência de como era solitária sua vida nas alturas geladas, também percebeu a beleza incomparável de Parvati, a filha dos Himalayas. Profundamente atraído por sua graça e dignidade, ele devotou atenção total a essa deusa feminina; ele e seu Lingam divino ficaram eternamente a disposição dela.

Parvati alegremente cedeu seus encantos a Shiva. Por séculos eles se entrelaçaram em um abraço divino, se ocupando em nada mais que o prazer mútuo.

O sol nasceu e se pôs incontáveis vezes diante de Shiva deliciado nos braços de sua esposa. Até ele sentir necessidade de explorar os mundos banhados pelos raios do Deus Sol, Surya e o Deus Lua, Chandra. Tomado de um alegre desejo de explorar o desconhecido e penetrar em novas realidades com todo seu divino poder, deixou Parvati e foi andar pelos mundos.

Após séculos vagando, seu caminho o levou de volta ao lugar em que ele experimentou sua maior glória, a terra de sua esposa divina, Parvati. Para grande surpresa de Shiva, ele encontrou um jovem esplêndido guardando essa familiar entrada.

Os músculos desse homem refletiam o sol poente e a graça de seus membros se assemelhava aos do próprio Shiva. Raivoso, ele foi até o intruso e exigiu saber quem ele era. O estranho respondeu ao onipotente em sua frente: "Essa é a minha casa. Eu sou o guardião da entrada. Quem é você, desconhecido, que entra em meu caminho de maneira tão pouco amigável?". Com isso, uma fúria descomunal tomou conta de Shiva Mahadeva. Espumando de raiva, ele decapitou o estranho com um só golpe e entrou em seu lar, negligenciado por tanto tempo.

"Quem era aquele estranho em minha porta?", perguntou à sua esposa, ainda tremendo do encontro com o rival inesperado. "Aquele era o nosso filho", respondeu Parvati já trêmula com o que estava por vir.

"Eu acabei de matá-lo", lamentou em tom monótono. Horrorizado e sem esperança, o casal criador do início do espaço/tempo caiu um nos braços do outro. "Como eu poderia saber que era meu próprio filho?". Parvati suspirou: "Como eu poderia te informar que você tem um filho, quando passa tanto tempo em mundos longínquos?".

Assombrado pelo fato de ter permitido que sua raiva o levasse a um ato tão hediondo, Shiva Pashupati, o Senhor dos Animais, decidiu entrar na selva. Para gerar uma segunda vida ao filho, ele sacrificaria o primeiro animal que cruzasse seu caminho.

O primeiro que encontrou foi um elefante. Shiva Mahadeva se curvou diante do Reis das Estepes e Florestas, cortou sua cabeça, agradeceu a criatura de quatro patas pelo sacrifício e carregou para casa a poderosa cabeça. Ele posicionou a cabeça do animal na carcaça sem vida do filho e soprou uma nova vida dentro dele.

Assim que Ganesha, filho de Shiva e Parvati, abriu os olhos para a nova existência, Shiva, o Destruidor e Criador do Universo, dirigiu essas palavras à cria divina: "Por favor, me perdoe pelo meu feito descuidado. Agora que você ressuscitou para uma nova vida, o primeiro agradecimento e a primeira invocação de qualquer ser vivo devem ser feitos a você. Antes que as pessoas possam prestar suas homenagens a mim, até o fim dos tempos elas devem primeiro oferecer seus respeitos a você."

Ganesha, o ser com cabeça de elefante e barriga protuberante, Deus da Benevolência, Felicidade e Riqueza (do coração, não de dinheiro), veio ao mundo como o fruto da maior glória. Experimentou raiva, morte e uma reanimação com amor e piedade. Ele deve sua vida a essas energias emocionais e vitais contrastantes. Esse é o motivo dele ter se tornado o modelo para os xamãs nativos do reino Hindu (apesar do fato de que a existência deles vem de tempos em que ainda nem havia religião institucionalizada). Ganesha se tornou o primeiro xamã a ser iniciado.

Todos os jhankris (xamãs ancestrais) invocam Ganesha primeiro, antes mesmo de Shiva e Agni.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Atitude do Terapeuta

A Atitude do Terapeuta


Anne Meurois-Givaudan

Aquele que se ocupa em tratar dos corpos vê sempre
Abrirem-se as portas das almas.
- Chemins De Ce Temps-Là


Atitude Interior

Se dedico agora todo um capítulo à atitude do terapeuta, seja ela interior ou exterior, é porque essa atitude vai ter um papel de grande importância na execução do tratamento. É fácil entender que tratamentos voltados para os corpos sutis exigem de quem os dispensa o alinhamento de seus atos, pensamentos e palavras, a fim de que, como sucede com um vaso de cristal, as energias que o atravessam não sejam limitadas e até mesmo obstruídas por escórias que só fariam retardar a passagem da luz.

A qualidade do tratamento dispensado vai depender da nossa qualidade enquanto seres no momento da nossa ação, pois ninguém pode atuar como terapeuta se não tentou trabalhar a si mesmo e purificar-se das próprias escórias.

Isso não significa, de modo algum, que é preciso ser perfeito para poder dispensar esse tipo de tratamento. Seria muita pretensão de minha parte julgar ter resolvido todos os meus "problemas", mas é certo que, de vida em vida, um dos meus objetivos foi sempre o de conseguir que meus diferentes corpos estivessem suficientemente sintonizados entre si para servirem de canal às energias de luz que sempre presidem qualquer tratamento.

Embora antes da época dos essênios eu já tivesse conhecimento dos tratamentos, refiro-me aos de dois mil anos atrás porque os ensinamentos dessa época são de grande precisão e Jesus, um dos meus maiores professores.

Jesus fazia uma grande diferença entre os mágicos e os enamorados do Amor. Os "milagres" realizados por estes e por aqueles pareciam idênticos, mas nos planos sutis a diferença era grande, pois a compreensão da Vida estabelecia-lhes a qualidade. Ele nos dizia, com relação à materialização de objetos, basicamente o seguinte:

"Existem duas maneiras de realizar os fatos a que nos referimos... Para a maioria dos seres, a diferença é nula, pois seus olhos de carne não captam senão os efeitos... Os mágicos projetam os raios de sua alma até o objeto de sua avidez, fazem-no sofrer uma transformação e trazem-no para o lugar onde se encontram... Eu porém dos digo: aquele que cria o faz por amor, aquele que se apropria do já criado opera pelo desejo.

"O desejo vos destruirá se não estiverdes atentos. Ele vos força a to­mar sem dar nada em troca. As leis do Sem Nome são inversas às que vós estabelecestes sobre a Terra, meus Irmãos; aquele que colhe sem nada distribuir não pode senão empobrecer-se inexoravelmente... Assim, eu não vos proponho o poder, mas a compreensão. Compreender é amar. "

Se faço menção a essas palavras no capítulo das atitudes é para que se entenda melhor o que pode ser o "desejo" do terapeuta e para que não sejamos mágicos-terapeutas, mas orientadores amorosos.

O Desejo

Freqüentemente, e de forma sutil, infiltra-se em nós o desejo de aplicar um tratamento, e está aí muitas vezes a pedra de tropeço em nosso caminho. Todos nós desejamos que a pessoa que nos procura se cure e, mais ainda, que "nós" possamos curá-la, proporcionar-lhe o alívio que ela veio buscar junto de "nós". Isso parece de uma lógica absolutamente inevitável. Entretanto...

Um ser que sofre não sofre por acaso. Através da provação por que passa, ele aprende e cresce, pois as provações são, freqüentemente, "presentes" que damos a nós mesmos, para irmos mais longe em nós e para além de nós. O sofrimento não é uma fatalidade, e certos mundos não o conhecem mais. Um acidente ou uma doença são sinais para nos fazer entender que uma parte de nós está em desacordo com a outra. São encontros impostos pela nossa vida supraconsciente que se tornarão trampolins assim que os tenhamos compreendido e resolvido. Pode acontecer, é claro, que um grande sofrimento nos faça fechar-nos como um tatu-bola sobre nós mesmos e torne mais lento o nosso caminhar. Conheço perfeitamente isso, por experiência própria, mas sei também que há sempre uma "luz no fim do túnel", mesmo que este pareça terrivelmente escuro no momento em que o atravessamos. Não quero dizer com isso que o terapeuta não possa fazer nada. Pelo contrário, ele pode nos levar a considerar o nó do "problema" que nos coube de uma perspectiva mais elevada; pode igualmente trazer os tijolos e o cimento que vão nos permitir reconstruir-nos; mas ele não poderá jamais construir no nosso lugar, percorrer o nosso caminho, porque isso somente nós podemos fazer.

Para o terapeuta, o desejo de curar freqüentemente está ligado ao fato de querer ser indispensável. Saber que sem nós uma pessoa não pode sair da situação em que se encontra, ou antes que nós podemos tirá-la dessa situação, é uma questão de orgulho. Quere­mos ser, nesta terra, indispensáveis, úteis, ou seja, valorizados, e se achamos que não temos capacidade para tal, preferimos tornar-nos marginais, no sentido relativo do termo, que para mim significa, neste caso, ser contra a sociedade, porque não encontramos nela o nosso lugar. Eu, particularmente, defendo uma outra forma de marginalidade, principalmente interior, e que nos deixa a possibilidade de dizer "sim" ou "não" por genuína escolha.

Pelo "desejo" nós existimos, mas não "somos". Sejamos nós mesmos no mais profundo do nosso ser, e estejamos bem certos de que ninguém cura ninguém. Essa afirmação pode parecer a você ousada ou fora de lugar, mas vidas e vidas passadas tratando das pessoas permitiram-me compreender isso tudo profundamente. Podemos aliviar, ajudar, trazer elementos que contribuem para a cura, mas a Cura propriamente dita, a Vida e a Morte não dependem de nós.

Certos doentes não querem se curar; desejam-no, é claro, superficialmente, mas a doença apresenta-se a eles como uma proteção e, embora ilusória, parece dar sentido à existência. Outros não vêem como sair do "impasse", que nunca existe de fato, e no mais profundo de si mesmos, muitas vezes inconscientemente, preferem morrer. São muito numerosos também os que partem curados para outros mundos, pois o nó que existia neles dissolveu-se afinal. Não temos dados suficientes para saber o que é bom ou justo neste ou naquele caso e, se desejarmos dar o melhor de nós mesmos a quem pede a nossa ajuda, isso nos levará a uma grande humildade.

A luz que passa através de nós no momento dos tratamentos, a qualidade do amor que vamos poder dar, esse é o nosso "trabalho".

O "desejo" toma muitas vezes a aparência de amor, da mesma forma que se confunde freqüentemente a emoção, que parte do terceiro chakra, com o amor, que parte do quarto; confunde-se também afeição com amor. Evidentemente, pode haver diferentes formas de amor e algumas podem ser coloridas por outros sentimentos, mas o Amor com A maiúsculo não tem família nem fronteiras, nem obrigações nem coloração. Ele E, e freqüentemente quem o pratica nem mesmo sabe que o pratica porque está mergulhado nele; ele é Amor. Isso é exigido de nós como algo fundamental.

O julgamento


Esse amor total não pode admitir julgamento. Neste ponto, também a fronteira é sutil entre julgamento e opinião. Emitir uma opinião, dar um parecer sobre alguma coisa ou sobre alguém é uma atitude neutra e está mais próximo de unia constatação. Emitir um julgamento é implicar-se pessoalmente na opinião, tomar partido segundo a nossa experiência, sem nos colocarmos na pele do outro. A neutralidade é uma qualidade indispensável, mas neutralidade não significará jamais indiferença ou frieza. Nós trabalhamos o amor­terapeuta e devemos fazer florescer a confiança e a paz nos seres sofredores que nos procuram.

Numa aldeia dos índios hurons, li esta frase que ficou gravada em minha mente:

"Grande Manitu, não me deixes criticar o meu vizinho por tempo muito prolongado, da mesma forma que eu não usaria seus mocassins durante uma lua inteira. "
Isso nos leva a uma outra qualidade que devemos desenvolver como terapeutas.

A Compaixão


É a chave indispensável que abrirá todas as portas, mas é também a chave que temos de procurar, pois a perdemos há muito tempo!

Por ocasião da minha aprendizagem, na época essênia, os Ir­mãos ensinaram-me como respirar no ritmo do ser que sofre. Eu sabia que poderia, dessa forma, pouco a pouco, identificar-me com ele e, sem adquirir o seu mal, vivê-lo interiormente. Essa etapa é indispensável, pois vai permitir captar a fonte do mal, depois desviá-la para o nosso corpo de luz antes de transmutá-la com toda a força do nosso coração e da nossa vontade.

Ter compaixão não significa naufragar com o outro, mas amá-lo suficientemente para saber o que ele sente. E compreender o que ele é sem julgá-lo; é sentir o que ele sente sem a emoção que o invade. Cada um de nós pode encontrar múltiplas definições para a palavra "compaixão". Na verdade pouco importa sua definição, desde que se saiba durante alguns minutos ser Ele, esse outro eu que sofre e nos chama.

"Aquece o teu coração, faz brilhar as tuas mãos e não haverá nem dor que possa desenvolver a sua espiral, nem mal que continue a tecer a sua teia...", ensinavam ao pequeno Simon os irmãos do Krmel.

A Transmutação


"Não se destrói o mal... "

Diante da doença existe uma lei universal que aprendi na época de Jesus e que ponho sempre em prática: não se destrói o mal. É nossa alma que permite a sua existência por causa das suas próprias fraquezas; devemos, então, não aniquilá-lo ou afastá-lo, mas substituí-lo pela luz que, ao tomar o seu lugar, transmutará a sombra.

Essa noção deve estar sempre presente quando praticamos, pois, ao utilizar o tipo de método ensinado aqui, nosso estado de espírito assemelha-se àquele do alquimista que vai transformar o chumbo em ouro. Nosso intuito não é destruir, arrancar, retirar o que quer que seja; operamos no amor e por amor, e é a luz que o compõe que deverá, pouco a pouco, substituir as zonas de sombra que deixamos instalarem-se em nós. Pode acontecer de certos terapeutas, e mesmo certos doentes, odiarem o mal que carregam ou que pensam que devem combater. Trata-se de um erro grosseiro, mesmo que compreensível, humanamente falando. Também neste caso é preciso impregnar-se das leis cósmicas que, invariavelmente, continuam sua trajetória para além de nossa compreensão. Quanto mais enviarmos pensamentos de ódio, de cólera, de rancor a quem nos machuca, tanto mais reforçamos a ação dessa pessoa e enfraquecemos a nossa. Lembrando o itinerário de viagem das formas-pensamento, fica mais fácil compreender como um pensamento de ódio vai atrair para nós outros pensamentos do mesmo tipo e nos embrutecer consideravelmente, obscurecendo por um momento a luz com que poderíamos nos reconstruir interiormente. Além disso, essa forma-pensamento vai alimentar e entreter o mal contra o qual lutamos muitas vezes sem muita habilidade.

Lembro-me da época da guerra do Golfo. Os pensamentos de ódio disparavam na direção de Saddam Hussein e, nessa ocasião, as pessoas com quem costumamos trabalhar nos diziam: "Se vocês envolverem esse ser em ódio, esses pensamentos reforçarão a ação dele no sentido da maldade. Se vocês lhe enviarem pensamentos de paz, a ação dele será por eles enfraquecida, pois não encontrará mais o alimento que a compõe... "

Cabe a nós, portanto, saber o que queremos; e se nem sempre podemos, num primeiro: momento, agradecer à doença pelo caminho que nos obriga a percorrer, evitemos ao menos alimentá-la.

Atitude Exterior


"Boa vontade não basta... "

Considero difícil estabelecer uma separação entre atitude interior e atitude exterior. As duas estão estritamente ligadas e se sus­tentam, mas é necessário abordar o lado mais técnico, ao menos para quem está começando. A técnica não é, na verdade, senão um suporte para alguma coisa que está além de nós e que aos poucos há de instalar-se em nós. Entretanto, vi muito freqüentemente pessoas animadas de enorme boa vontade fazerem qualquer coisa a pretexto de ouvir o coração. Somos feitos de diversos elementos e não deve­mos negligenciar um deles em proveito de outro. O estado psicológico está a nosso serviço, nossa vontade também está e nós devemos utilizá-los como tais.

"De boas intenções o inferno está cheio" - é um ditado popular de muito bom senso. Aqui também reforço o meu alerta: para tornar-se um bom terapeuta, boa vontade não basta! Mesmo que todo o Amor do mundo esteja latente em você, é preciso ainda fazê-lo florescer e aceitar humildemente a aprendizagem necessária e os conhecimentos dos mundos sutis que impossibilitam virmos a transgredir certas leis sem sofrer ou provocar conseqüências.

Atualmente, os habitantes da Terra, em sua grande maioria, funcionam no nível do terceiro chakra. Isso significa que muitas vezes o nosso modo de amor é humano demais e perpassado de emotividade. Esse amor, por mais válido que seja, não nos vai proporcionar o necessário distanciamento, a ponto de nos isentar de aprender. Da mesma forma que um excelente pianista pode improvisar com sucesso, se quiser, porque antes estudou suas escalas, assim também cada terapeuta poderá ir além das técnicas para proclamar o que sente profundamente, desde que tenha algo a ultrapassar, isto é, desde que tenha, ele também, "estudado suas escalas".

É sempre muito curioso ouvir pessoas que pensam que podem fazer qualquer coisa a pretexto de alcançar planos mais sutis do que aqueles nos quais costumamos "trabalhar". Buscar o "sutil" não significa caminhar ao acaso, ou agir conforme o humor ou a disposição do momento. Temos em nós todas as capacidades e podemos despertá-las, mas o "abandonar-se" é algo que se aprende, a "neutralidade" também, assim como a "compaixão". Certamente não aprendemos a desenvolver isso tudo da mesma forma que aprendemos matemática ou história. As lições são sempre muito práticas e a vida se encarrega de colocá-las no nosso caminho até que tenhamos compreendido o que tínhamos para aprender... Mas trata-se sempre de um aprendizado e não podemos deixar de considerá-lo; da mesma forma que, para aprender a ler e a escrever, precisaremos de um pouco de tempo e de perseverança, mesmo fazendo dessa atividade algo agradável, o que é o ideal.

Depois desse alerta, passo a lhe propor alguns "pontos de referência" no tocante à posição a assumir por ocasião dos tratamentos.

Particularmente, prefiro, hoje em dia, realizar o tratamento usando um colchonete colocado diretamente sobre o chão; mas algumas pessoas, terapeutas ou pacientes, podem ter dificuldade para se movimentar nessa posição. Nesse caso, uma mesa de tratamento dará conta plenamente da tarefa.

O paciente deverá estar em trajes íntimos, ou pelo menos vestindo roupas de algodão para evitar interferências, e não deve cruzar pernas ou braços a fim de não cortar os circuitos de energia. Deve também, pelas mesmas razões, tirar relógio e jóias. Não há nisso nada de excepcional ou esotérico; é fácil compreender que o cruza­mento das pernas pode dificultar a circulação do sangue, acontecendo o mesmo com relação às energias nos planos mais sutis.
Quem administra o tratamento deve estar de pé junto do paciente, se este estiver deitado em um leito ' ou mesa de tratamento, e sentado na posição de lótus ou de joelhos, se o paciente estiver deita­do sobre um colchonete apoiado diretamente no chão. A coluna vertebral do terapeuta deverá estar o mais reta possível para que as energias com que trabalha circulem mais facilmente.

Depois de ter-se deixado envolver pela calma e pela neutralidade, o terapeuta, pode e deve dirigir-se ao paciente para que este se sinta confiante e invadido por uma benfazeja serenidade. A beleza e a simplicidade do lugar poderão sem dúvida contribuir para que se instale esse oportuno bem-estar. A partir desse instante preciso, tem início a verdadeira preparação para os tratamentos, de que falarei detalhadamente a seguir.


Autor:
Anne Meurois-Givaudan
Fonte:
Leitura de Auras e tratamentos Essênios
Tradução:
Maria Ângela Casellato
Editora: Pensamento

domingo, 19 de julho de 2009

Espontaneidade


ESPONTANEIDADE



A palavra espontâneo refere-se a tudo o que é natural, não comandado, nem controlado artificialmente. Este é nosso estado primordial, aquele com o qual chegamos ao mundo.
Mas, na medida em que nos desenvolvemos, torna-se necessário que nos adaptemos à realidade exterior. Então, vamos deixando para trás nossa espontaneidade original para poder corresponder ao que esperam de nós. Afinal, esta é a única maneira de sermos aceitos e integrados à vida em sociedade.

Entretanto, se não estivermos conscientes, este processo pode se tornar tão fortemente arraigado, que acabamos por esquecer totalmente de nossa essência. Assumimos de tal modo esta personalidade social, -necessária para transitarmos com sucesso no mundo- que acabamos por sufocar e manter reprimida nossa verdadeira identidade.

Muitas pessoas não conseguem distinguir em si, quais os anseios que brotam de seu próprio coração, daqueles que lhes foram impostos como sendo os mais adequados, promissores, vantajosos.
Sofrem, angustiam-se e sentem uma grande dificuldade em se adequar ou corresponder às expectativas alheias, por não perceberem que o importante é redescobrir a sua própria verdade, aquilo de que necessitam para serem verdadeiramente felizes.

A espontaneidade, que consiste em reagir aos acontecimentos seguindo a nossa própria natureza, e não a um padrão de reação pré-determinado, é a principal qualidade que precisamos resgatar, se quisermos alcançar um estado de alegria, serenidade e paz.

Uma das situações mais delicadas sobre o caminho do buscador: conhecer sempre se torna conhecimento... Conhecer é um processo. Conhecimento é uma conclusão. Quando o conhecer morre, torna-se conhecimento. E se você segue colecionando este conhecimento, então conhecer se tornará mais e mais difícil.

.Então, você carrega seu conhecimento ao redor de você. Uma pessoa culta está quase escondida atrás de seu conhecimento. Ela perde toda a claridade, toda percepção. O mundo torna-se distante; a realidade perde toda a transparência.

A pessoa culta está sempre olhando através do seu conhecimento. Ela projeta seu conhecimento. Seu conhecimento colore tudo – agora não há a mais remota possibilidade de conhecer. Lembre-se: conhecimento não é obtido somente através das escrituras-também é adquirido, e mais ainda, através da sua própria experiência.

E Jesus disse: Somente aqueles que são como crianças, estarão prontos para entrar no meu Reino de Deus – somente aqueles que são como crianças, somente aqueles que ainda são capazes de maravilhar-se. Maravilhar-se é o grande tesouro da vida. Uma vez que você perca a capacidade de maravilhar-se, você terá perdido sua vida – então você se arrasta...

Este é um dos mais difíceis problemas que a mente moderna está enfrentando, porque o conhecimento tem se acumulado mais e mais a cada dia... Então, lembre-se de permanecer capaz de maravilhar-se como uma criança.

Se você quer ser religioso, então, crie mais mistérios, descubra mais mistérios. Permita que seus olhos sejam mais preenchidos por maravilhas do que por qualquer outra coisa. Seja surpreendido por tudo que está acontecendo.

Tudo é tão tremendamente maravilhoso que é simplesmente inacreditável como você segue vivendo sem dançar, como você segue vivendo sem tornar-se extasiado. Você não deve ter visto o que está acontecendo ao redor.

Apenas ser é tão miraculoso, apenas respirar é tão miraculoso. Apenas respirar e apenas ser – nada mais é necessário para uma pessoa religiosa. Estar preenchido pelo mistério. E quando alguém está preenchido pelo mistério, o louvor desperta, e o louvor é uma prece. Quando você vê esta maravilhosa existência, você começa a louvá-la.

Um homem pleno de consciência é imprevisível... Ele se move momento a momento, pleno de mistério. Ele age a partir do mistério; ele age a partir da resposta para o momento. Ele não carrega conhecimento. A cada momento ele é novo, renascido.

E nunca permita que seu conhecimento controle você e crie um caráter para você. Um caráter é uma armadura... Na armadura, você está encarcerado… então, você nunca pode ser espontâneo. Você já está no seu túmulo – um caráter é um túmulo.

Mova-se pra a frente! Novamente como uma criança. É difícil, eu sei. É fácil dizer, difícil ser deste modo – mas este é o único modo de alcançar satchitanand – você pode alcançar a verdade, você pode alcançar a consciência, você pode alcançar a felicidade.

Não permita que o conhecer se torne conhecimento e caráter. Então, um tipo totalmente diferente de caráter crescerá, o qual não será como o caráter que você tem visto no mundo. Ele será interior – uma disciplina virá do mais íntimo do seu coração. Nunca forçada– sempre espontânea. Não é como um comando: é um crescimento orgânico. Deus é o seu crescimento orgânico espontâneo.


Osho – A Sudden Clash of Thunder