quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Poder dos Mantras





O poder dos Mantras

:: Bel Cesar ::
Como vimos no texto anterior sobre o poder da energia espiritual, podemos não definir exatamente o que ela seja, mas intuitivamente todos nós sabemos que necessitamos dela. Afinal, quem não quer sentir paz e comunhão com o mundo à sua volta? Aliás, outro dia, ao perguntar a um paciente se ele já havia sentido estar em comunhão com a natureza, ele me disse: Não tenho a menor idéia do que você está falando. Rimos juntos. Mas, ao aprofundar a conversa, concluímos o quanto a nossa mente inquieta e perturbada pelos afazeres do cotidiano nos impede de simplesmente relaxar e sentir bem-estar onde quer que estejamos. Estamos cansados de sentir o peso de nossas preocupações, dúvidas e angústias. Queremos sentir a leveza de uma mente saudável! Para tanto, precisamos nos deixar tocar pela força da energia positiva sutil, pois ela age como um bálsamo curativo sobre nossa mente cansada. Podemos nos nutrir de energia espiritual por meio dos mantras: na qualidade energética dos sons sagrados. Na meditação budista, trabalhamos mais com sons e imagens do que com o conceito das palavras. É que as palavras estimulam a mente conceitual e os sons e as imagens tocam a mente. Assim como Lama Gangchen costuma nos dizer: Nossa mente é muito `dura´. Por isso ela precisa ser massageada com os mantras, para dissolver a sua rigidez e os seus bloqueios. A palavra sânscrita mantra é formada de duas sílabas: MAN que significa mente, e TRA, proteger. O seu significado é, portanto, proteger a mente. O poder sutil das palavras recitadas num mantra é uma qualidade abstrata que só pode ser observada por meio de seus efeitos. Neste sentido, o mantra age como que num plano secreto, pois seu poder está além das imagens e das palavras. A força secreta do mantra depende de algumas condições. Como por exemplo, se o praticante recebeu ou não a transmissão oral deste mantra por um mestre que tenha realizado o poder sutil do mesmo. Na tradição budista tibetana, a transmissão oral é muito importante. Pois é por meio dela que o praticante irá receber a transferência de poder para praticar o mantra. Isto é, o mestre irá ativar a força secreta do mantra para o discípulo poder praticá-lo. Assim como explica Lama Gangchen Rinpoche em seu livro Autocura Tântrica III (Ed. Gaia): Quando usamos o termo 'secreto' não queremos dizer que as palavras, melodias ou explicações sejam secretas. Todos os tibetanos podem ir a uma livraria e comprar livros sobre todos os assuntos mais incríveis e secretos do Tantra tibetano. 'Secreto' significa que é necessária uma transmissão de coração para coração para que as instruções funcionem. A experiência interna que cada um tem é secreta, pois é uma experiência meditativa, e quando nos dirigimos às pessoas que não a tiveram, podemos apenas sugeri-la por meio de palavras. ’Secreto‘ significa que a mente não tem forma e que, portanto, é muito difícil expor uma experiência mental. Tradicionalmente, todos os meditadores tântricos mantinham secretos os resultados de suas práticas, contando-os apenas aos seus melhores amigos, para assim guardar sua energia interna. Como resultado, tudo que eles desejavam fazer com a mente (desenvolver a compaixão, a experiência da vacuidade ou a Iluminação) sempre dava certo. Esse é o motivo por que aconteciam tantos milagres e experiências especiais no início das linhagens tântricas: os meditadores sabiam muito bem como cuidar de sua preciosa energia mental interna. A força do poder de cura de um mantra depende também da clareza de intenções daquele que o recita. A qualidade da motivação de quem recita um mantra revela seu desenvolvimento espiritual. Uma pessoa pode recitar mantras para adquirir bens materiais e poder pessoal. No entanto, sua força será muito maior quando ela o recitar para desenvolver compaixão e amor, porque esta é a força original do mantra. Desta forma, ele estará em sintonia com a força secreta do mantra. Durante séculos, os mantras têm sido usados na prática espiritual para enfocar e transformar a energia sutil. As energias curativas despertadas pelo som do mantra são inerentes à psique. Na tradição budista, estas forças positivas são caracterizadas como divindades: manifestações de uma força transformadora que se encontra em nossa mente. Um mantra que gosto muito de recitar é o mantra de Tara Verde: OM TARE TUTARE TURE SOHA Em tibetano, Tara é conhecida como Drolma, a Salvadora, pois ela é a manifestação da energia feminina da mente iluminada: a sabedoria. Tara Verde é a energia feminina da intuição, da criação. Ao desenvolver essa energia dentro de nós, teremos mais vitalidade e disposição para realizar nossos projetos de vida, pois Tara elimina os obstáculos mentais criados pelo medo e pela preguiça. A energia de Tara nos ajuda a colocar velozmente as idéias em ação. Uma idéia não colocada em prática é apenas um pensamento. Quando colocamos nossas idéias em ação, damos vida e energia para os nossos pensamentos. Recitar o seu mantra nos ajuda a eliminar as interferências internas como medo e ressentimento. Traz proteção, fé e coragem. OM significa os sagrados corpo, fala e mente de Tara. TARE Aquela que liberta do sofrimento verdadeiro. TUTTARE que elimina todos os medos. TURE que concede todo o sucesso. SOHA significa possa o significado do mantra enraizar-se em minha mente. A prática de recitar mantras é especialmente valiosa nos dias de hoje, porque é simples e direta. Tudo o que precisamos fazer é relaxar o máximo possível enquanto repetimos ritmicamente as sílabas do mantra, em voz alta ou silenciosamente. Meditação simplificada da divindade Tara Verde Inicialmente, foque seu problema e peça clareza à Tara Verde. Peça para que você e todos os seres reconheçam a natureza verdadeira de si mesmos, e que o sofrimento do medo se extinga. Visualize, então, Tara Verde sendo manifestada por uma forte luz Verde Esmeralda, logo à sua frente, enquanto recita o mantra de Tara Verde: OM TARE TUTTARE TURE SOHA. Você pode cantá-lo ou recitá-lo. Conforme você se concentra em seus pedidos à Tara Verde, visualize a luz à sua frente se intensificando, penetrando no topo de sua cabeça e preenchendo seu corpo de luz verde, purificando suas dúvidas e medos, realizando seus pedidos. Quando se sentir calmo e seguro, visualize esta forte luz verde, a manifestação da energia de Tara Verde, descendo agora pelo topo de sua cabeça, passando pela garganta, até fundir-se no interior de seu coração. Assim, a sua mente e a de Tara Verde estão em união. Permaneça nesse estado o tempo que puder, cultive o sentimento de confiança de que sua meditação foi realizada com sucesso. Então, para finalizar, dedique essa energia à longa vida de seu mestre e a todos os que necessitam da energia positiva que você acumulou por meio de sua motivação e concentração ao fazer esta meditação.

Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano.Trabalha com a técnica de EMDR, um método de Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

sábado, 16 de abril de 2011

Emoçoes de Acordo com Psicologia Budista





A anatomia das emoções segundo a Psicologia Budista
Segundo o budismo tibetano, a natureza da mente sutil do ser humano é potencialmente pura como a energia de um puro cristal. No entanto, está contaminada por três grandes venenos mentais: o apego, a raiva e a ignorância. Estes, por sua vez, são resultantes de um grande veneno mental: o fato de pensarmos que as coisas existem por si só e que são permanentes.
Nada existe por si só, tudo está interligado. Apesar do seu aspecto permanente, tudo está em constante transformação. Podemos compreender estas verdades racionalmente, mas agimos instintivamente como se as coisas e as pessoas existissem em si e por si próprias, a partir delas mesmas. Nossa percepção da realidade está distorcida. Da mesma forma, sabemos que vamos morrer um dia, mas vivemos como se fôssemos imortais. Podemos até perceber nossa ignorância, mas enquanto a base de nosso ambiente interno for o medo e a dúvida, continuaremos presos a nossos hábitos mentais distorcidos. Enquanto pensarmos que somos pessoas carentes e inadequadas, não seremos capazes de reconhecer nossa base interna positiva! A anatomia das emoções conforme a psicologia budista é descrita no Abhidharma (que na língua pali dos tempos de Buddha significa “a doutrina final”), o texto original da epistemologia do budismo, onde são elaboradas as investigações originais de Buddha sobre a natureza humana. Segundo o Abhidharma, todos os seres são compostos de fatores mentais ou “Nama”, e fatores materiais ou “Rupa”. O indivíduo é um “Nama-rupa”. Nama denota tanto a consciência como os estados mentais. Assim, o Abhidharma enumera 51 tipos de estados mentais. Ainda de acordo com o Abhidharma, existem 89 tipos de consciência. Destas, 80 são características do ser comum, e as 9 restantes são próprias daqueles que atingiram um desenvolvimento espiritual superior. A psicologia budista descreve nos “sankharas”, ou estados mentais generalizados, Seis Emoções Básicas (Seis Venenos-Raiz ou Aflições mentais); Vinte Emoções Secundárias; Onze Fatores Mentais Virtuosos; Quatro Fatores Mentais que podem ou não ser virtuosos. As Seis Emoções Básicas são (em itálico, os termos em tibetano): 1. Apego, isto é, desejo ou ansiedade por possuir – Dö.Tchag 2. Raiva, hostilidade, ódio – Kong.tro 3. Ignorância, ilusão – Ma.rig.pa 4. Orgulho, arrogância – Nga.guiel 5. Dúvida ou suspeita – Te.tsom 6. Visões falsas ou errôneas – Ta.wa.nyon.mon.tchen Destas, as três primeiras são as mais graves, por isso, são chamadas de Os três Venenos Mentais. As Vinte Emoções Secundárias, derivadas de algumas Emoções básicas, conhecidas também como Os Vinte Fatores Afins da Instabilidade, são: Raiva 1.Irritação, agressividade ou indignação – Tro.wa 2.Ressentimento ou rancor – Kön.dzin 3.Hipocrisia ou dissimulação – Tchab.pa 4.Malevolência ou animosidade – Tseg.pa 5.Inveja ou ciúmes – Trag.dog 6. Crueldade ou malícia – Nam.Tse Apego 7. Avareza – Ser.na 8. Excitação mental – Go.pa 9. Arrogância ou presunção – Guia.pa Ignorância 10. Desatenção – She.Shin Min.pa 11. Melancolia ou Mente Pesada – Mug.pa 12. Falta de confiança ou Incredulidade – Ma.te.pa 13. Preguiça – Lê.lo 14. Falta de atenção introspectiva ou esquecimento – Dje.nhe Ignorância + apego 15. Falsidade ou pretensão – Guiu 16. Desonestidade – Yo Ignorância + apego + raiva 17. Impudência ou ausência de vergonha – NgoTsa Med.pa 18. Falta do senso de propriedade ou desconsideração – Trel.Me.pa 19. Desinteresse – Bag.me 20. Distração – Nam.yen Os Onze Fatores Mentais Virtuosos são: 1. Fé – De.pa 2. Sentido do que é correto – Ngo.Tsa.she.pa 3. Consideração pelos outros – Trel.yo.pa 4. Desapego – Ma.tchag.pa 5. Não-raiva ou imperturbabilidade – She.dang.me.pa 6. Não-confusão – Ti.mug.me.pa 7. Perseverança entusiástica – Tson.dru 8. Flexibilidade – Shintu.djang 9. Retidão mental – Bag.yo 10. Não-violência – Nam.par.mi.tse.ba 11. Equanimidade – Tang.nhön Os Quatro Fatores Mentais que podem ou não ser virtuosos são: 1. Dormir – nhi 2. Arrependimento – Guio.pa 3. Investigação geral – Tog.pa 4. Análise – Tcho.pa O Abhidharma distingue entre os fatores mentais que são puros, saudáveis e os que são impuros e prejudiciais. O critério usado para fazer essa distinção foi a observação dos fatores mentais que contribuem para a meditação e para o desenvolvimento espiritual. As emoções positivas encontram-se, na maioria das vezes, encobertas por emoções negativas. A psique humana é formada por camadas mentais: experiências que se sobrepõem e se sustentam umas às outras. Por esta razão, o desenvolvimento espiritual é comparado ao ato de descascar uma cebola: cada camada retirada expõe as qualidades da camada que está abaixo, até desvendar seu núcleo, que é verdadeiramente puro e positivo. Portanto, o budismo nos inspira a entender que no exato momento em que sentimos raiva, temos também a não-raiva como um realidade emocional subjacente à ela. Ou seja, nossas emoções negativas não podem contaminar nossa natureza essencial - o núcleo de nossa mente -, mas podem encobri-la. Se elas fossem inerentes à mente, não haveria sentido em nosso trabalho de removê-las! Para nos desenvolvermos interiormente, é essencial perceber que é possível nos libertarmos delas. Chögyam Trungpa, um renomado mestre do budismo tibetano, define o núcleo central e saudável de nossa mente como a bondade fundamental dos seres humanos. Assim, diz ele: “O primeiro passo para perceber a bondade fundamental é valorizar o que temos. Em seguida, porém, deveríamos ver mais longe e examinar o que somos, quem somos, onde estamos, quando somos e como somos enquanto seres humanos, para então sermos capazes de tomar posse da nossa bondade fundamental. Não se trata de uma ‘posse’, mas de todo modo nós a merecermos”. A mente pura como cristal está sempre presente; no entanto, depende de nosso ambiente interior para se manifestar. Isto é, necessita de constante abertura, confiança e coragem para olhar o que quer que surja em nossa vida com compaixão e entendimento.


Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano.Trabalha com a técnica de EMDR, um método de Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Tsong Khapa

Lama Tsongkhapa

Lama Tsongkhapa RelicLama Tsongkhapa (1357d.C. - 1419 d.C.) nasceu na região de Tsong Kha na Província Amdo no Tibet oriental. Ele era famoso por sua dedicação a prática vigorosa. Ele realizou 3.500.000 prostrações completas, deixando uma impressão de seu corpo no chão do templo. Ele tinha visões de Manjushri, o bodisatva da sabedoria iluminada.

Lama Tsongkhapa é o fundador da tradição Gelug do Budismo Tibetano. Escreveu muitos tratados renomados e comentários aos textos clássicos como o lam rim (os estágios do caminho).

Aos 62 anos, bem cedo pela manhã sentado em posição de lótus completa, sua respiração parou. Muitos discípulos testemunharam raios de luz emanando de seu corpo, levando os a crer que ele havia entrado no bardo (o estagio entre morte e renascimento) como um ser iluminado.

Ele ensinou:

"Se você soubesse o quão difícil é obtê-la,
Viver a vida ordinária seria impossível.

Se você pudesse ver os grandes benefícios dela,

Você ficaria triste se ela não tivesse significado.

Se você pensasse sobre a morte,

Você se prepararia para as vidas futuras.

Se você pensasse sobre causa e efeito,

Você deixaria de ser descuidado."

Relíquias e Origem

  • Ainda vivo, Lama Tsongkhapa ofereceu seu dente a um de seus discípulos de coração, Khedrup Je. Seus outros discípulos também queriam o dente, então Je Tsongkhapa colocou o dente em cima do altar, fez oferecimentos e orações e é dito que o dente se multiplicou em nove, os quais ele distribuiu aos seus seguidores. A relíquia do dente exibida aqui é uma das nove relíquias manifestadas do dente original. A relíquia foi oferecida ao Lama Zopa Rinpoche em Lhasa, Tibet, em 1987 por Wesar Rinpoche do Monastério de Sera Me no Sul da Índia.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Khatag


Khatag, a Echarpe da Felicidade


Conta-se que o rei do Tibet [Trisong Deutsen], que não era buddhista, andava muito ressentido com o respeito e a veneração que o povo do Tibet mostrava para com o grande mestre indiano Padmasambhava. Parecia-lhe, na verdade, que reverenciavam mais a Padmasambhava do que a ele mesmo. Assim, o rei decidiu assegurar-se que, quando o grande mestre o visitasse, todos os chefes do país veriam aquele a quem tanto honravam render homenagem a seu rei.

No dia da visita de Padmasambhava, todos os cortesãos foram congregados para vê-lo render homenagem ao rei; este, com grande ansiedade, também esperava para conhecer o grande mestre. O altivo rei mal pôde ocultar o seu grande prazer quando Padmasambhava levantou os braços como que para prostrar-se diante do trono real; mas, ao invés disso, das mãos de Padmasambhava saíram chamas que alcançaram as roupas do rei, queimando-as em segundos. Enquanto os cortesãos tratavam de apagar as chamas a golpes, o rei, sufocado pela fumaça que subia de sua echarpe cerimonial, retirou-a dos ombros. Comprovando o grande poder do mestre o rei lançou-se aos pés de Padmasambhava em submissão, e lhe ofereceu a echarpe em sinal de humildade. Padmasambhava aceitou a echarpe, mas logo a devolveu ao rei, colocando-a ao redor do seu pescoço, como um signo de bênção e da vitória da autoridade sacerdotal sobre o poder temporal.

E assim, diz-se no Tibet, terra de poucas flores, que Padmasambhava estabeleceu o oferecimento de khatags de felicidade, como demonstração de respeito.

Khatag é uma tira comprida de tecido, geralmente branca, uma espécie de longa echarpe, que pode ser confeccionada com diferentes tipos de tecido, desde a seda até gaze atesada com pó de arroz. Literalmente significa "tecido que une" e simboliza o laço que se estabelece entre aquele que a oferece e o que a recebe.

(Jayang Rinpoche. Contos populares do Tibete: os mais belos diálogos da literatura budista.
Traduzido por Lenis. E. Gemignani de Almeida.