sábado, 31 de maio de 2008


Osho,
você pode falar sobre a arte da massagem?

Massagem é algo que você começa a aprender, mas você nunca termina. Ela avança e avança e a experiência se torna continuamente mais profunda e mais profunda e mais alta e mais alta. A massagem é uma das artes mais sutis – e ela não é somente uma questão de perícia. Ela é uma questão de amor.

Aprenda a técnica – então a esqueça. Então apenas sinta e mova-se pelo sentimento. Quando você aprende profundamente, noventa por cento do trabalho é feito pelo amor, dez por cento pela técnica. Apenas através do próprio toque, um toque amoroso, relaxa-se o corpo.

Se você ama e sente compaixão pela outra pessoa e sente o valor supremo dela; se você não a trata como se fosse um mecanismo para ser colocado em ordem, mas uma energia de tremendo valor; se você está agradecido por ela confiar em você e permitir que você brinque com a sua energia – então mais e mais você irá sentir como se você estivesse tocando um órgão. Todo corpo se torna as teclas do órgão e você pode sentir que uma harmonia é criada dentro do corpo. Não somente a pessoa será ajudada, mas você também.

A massagem é necessária no mundo porque o amor desapareceu. Outrora o próprio toque dos amantes era suficiente. Uma mãe tocando o filho, brincando com o seu corpo, era massagem. O marido brincando com o corpo da mulher, era massagem; isto era suficiente, mais do que suficiente. Isto era profundo relaxamento e parte do amor. Mas isto desapareceu do mundo. Mais e mais nós esquecemos onde tocar, como tocar, o quanto profundo tocar. Na verdade, o toque é uma das linguagens mais esquecidas. Nós nos tornamos quase desconfortáveis no toque, porque a própria palavra for corrompida pelas assim chamadas pessoas religiosas. Elas lhe deram uma conotação sexual. A palavra se tornou sexual e as pessoas se tornaram amedrontadas. Todo mundo está de guarda para não ser tocado, a menos que se permita. Agora no ocidente o outro extremo chegou. Toque e massagem se tornaram sexual. Agora a massagem é apenas uma cobertura, um cobertor para a sexualidade. Na verdade nem o toque nem a massagem são sexuais. Eles são funções do amor. Quando o amor cai de sua altura ele se torna sexo e então ele se torna feio.

Assim seja devocional. Quando você toca o corpo de uma pessoa seja devocional – como se o próprio Deus estivesse lá e você está apenas servindo-o. Flua com energia total. E sempre que você vê o corpo fluindo e a energia criando um novo padrão de harmonia, você irá sentir um desfrute que você nunca sentiu antes. Você irá cair em profunda meditação.

Enquanto massagista, apenas massageie. Não pense em outras coisas porque elas são distrações. Esteja em seus dedos e em suas mãos como se todo o seu ser, toda a sua alma estivesse lá. Não deixe que seja apenas um toque do corpo. Toda a sua alma entra no corpo do outro, penetra nele, relaxa os nós mais profundos. E faça disto uma brincadeira. Não o faça como um trabalho; torne-o um jogo e faça-o como uma diversão. Ria e deixe o outro rir também.

A massagem é entrar em sincronia com a energia do corpo de alguém e sentir onde ela está faltando, sentir onde o corpo está fragmentado e torná-lo completo... É ajudar a energia do corpo de modo que ela não seja mais fragmentada, não mais contraditória. Quando as energias do corpo estão alinhadas e se tornam uma orquestra, então você teve sucesso.

Assim tenha muito respeito com o corpo humano. Ele é o verdadeiro santuário de Deus, o templo de Deus. Assim com profunda reverência, prece, aprenda a sua arte. Esta é uma das grandes coisas para aprender.

Texto do mestre Osho, retirado do “Livro da Cura” - Ed. Shakti.

sexta-feira, 30 de maio de 2008


Krishnamurti

A busca do homem

A Mente Torturada - O Caminho Tradicional - A Armadilha da Respeitabilidade - O Ente Humano e o Individuo - A Batalha da Existência - A Natureza Básica do Homem - A Responsabilidade - A Verdade - A Dissipação de Energia - A Libertação da Autoridade.


Através das idades veio o homem buscando uma certa coisa além de si próprio, além do bem-estar material - uma coisa que se pode chamar verdade, Deus ou realidade, um estado atemporal - algo que não possa ser perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento ou pela corrupção humana.

O homem sempre indagou: Qual a finalidade de tudo isto? Tem a vida alguma significação? Vendo a enorme confusão reinante na vida, as brutalidades, as revoltas, as guerras, as intermináveis divisões da religião, da ideologia, da nacionalidade, pergunta o homem, com um profundo sentimento de frustração, o que se deve fazer, o que é isso que se chama viver e se alguma coisa existe além dos seus limites.

E, não podendo encontrar essa coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o homem cultivou a fé - fé num salvador ou num ideal, a fé que invariavelmente gera a violência.

Nessa batalha constante que chamamos "viver", procuramos estabelecer um código de conduta conforme à sociedade em que somos criados, quer seja uma sociedade comunista, quer uma pretensa sociedade livre; aceitamos um padrão de comportamento como parte de nossa tradição hinduísta, mulçumana, na, cristã ou outra. Esperamos que alguém nos diga o que é conduta justa ou injusta, pensamento correto ou incorreto e, pela observância desse padrão, nossa conduta e nosso pensar se tornam mecânicos, nossas reações, automáticas. Pode-se observar isso muito facilmente em nós mesmos.

Durante séculos fomos amparados por nossos instrutores, nossas autoridades, nossos livros, nossos santos. Pedimos: "Dizei-me tudo; mostrai-me o que existe além dos montes, das montanhas e da Terra" - e satisfazemo-nos com suas descrições, quer dizer, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos têm dito, ou guiados por nossas inclinações, nossas tendências, ou impelidos a aceitar pelas circunstâncias e o ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influências e em nós nada existe de novo, nada descoberto por nós mesmos, nada original, inédito, claro.

Consoante a história teológica garantem-nos os guias religiosos que, se observarmos determinados rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados, obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões, se nos abstivermos dos prazeres sexuais, então, após torturar suficientemente o corpo e o espírito, encontraremos uma certa coisa além desta vida desprezível. É isso o que têm feito, no decurso das idades, milhões de indivíduos ditos religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos, nas montanhas, numa caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente a ajustar-se a padrões estabelecidos. Mas, a mente que foi torturada, subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, que renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e o ajustamento - essa mente, por mais longamente que busque, o que achar será em conformidade com sua própria deformação.



Assim, para descobrir se de fato existe ou não alguma coisa além desta existência ansiosa, culpada, temerosa, competidora, parece-me necessário tomarmos um caminho completamente diferente. O caminho tradicional parte da periferia para dentro, para, através do tempo, da prática e da renúncia, atingir gradualmente aquela flor interior, aquela íntima beleza e amor - enfim, tudo fazer para nos tornarmos estreitos, vulgares e falsos; retirar as camadas uma a uma; precisar do tempo, amanhã ou na próxima vida chegaremos - e quando, afinal, atingimos o centro, não encontramos nada, porque nossa mente se tornou incapaz, embotada, insensível.
Após observar esse processo, perguntamos a nós mesmos se não haverá outro caminho totalmente diferente, isto é, se não teremos possibilidade de "explodir" do centro.

O mundo aceita e segue o caminho tradicional. A causa primária da desordem em nós existente é estarmos buscando a realidade prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele que nos garante uma vida espiritual confortável. É um fato verdadeiramente singular esse, que, embora em maioria sejamos contrários à tirania política e à ditadura, interiormente aceitamos a autoridade, a tirania de outrem, permitindo-lhe deformar a nossa mente e a nossa vida. Assim, se de todo rejeitarmos, não intelectual, porém realmente, a autoridade dita espiritual, as cerimônias, rituais e dogmas, isso significará que estamos sozinhos, em conflito com a sociedade; deixaremos de ser entes humanos respeitáveis. Ora, um ente humano respeitável nenhuma possibilidade tem de aproximar-se daquela infinita, imensurável realidade.
Começais agora por rejeitar uma coisa que é totalmente falsa - o caminho tradicional - mas, se o rejeitardes como reação, tereis criado outro padrão no qual vos vereis aprisionado como numa armadilha; se intelectualmente dizeis a vós mesmo que essa rejeição é uma idéia importante, e nada fazeis, não ireis mais longe. Se entretanto a rejeitardes por terdes compreendido quanto é estúpida e imatura, se a rejeitais com alta inteligência, porque sois livre e sem medo, criareis muita perturbação dentro e ao redor de vós, mas vos livrareis da armadilha da respeitabilidade. Vereis então que cessou o vosso buscar. Esta é a primeira coisa que temos de aprender: não buscar. Quando buscais, agis, com efeito, como se estivésseis apenas a olhar vitrinas.



A pergunta sobre se há Deus, verdade, ou realidade ou como se queira chamá-lo - jamais será respondida pelos livros, pelos sacerdotes, filósofos ou salvadores. Ninguém e nada pode responder a essa pergunta, porém somente vós mesmo, e essa é a razão por que deveis conhecer-vos. Só há falta de madureza na total ignorância de si mesmo. A compreensão de si próprio é o começo da sabedoria.

E, que é vós mesmo, o vós individual? Penso que há uma diferença entre o ente humano e o indivíduo. O indivíduo é a entidade local, o habitante de qualquer país, pertencente a determinada cultura, uma dada sociedade, uma certa religião. O ente humano não é uma entidade local. Ele está em toda parte. Se o indivíduo só atua num certo canto, isolado do vasto campo da vida, sua ação está totalmente desligada do todo. Portanto, é necessário ter em mente que estamos falando do todo e não da parte, porque no maior está contido o menor, mas o menor não contém o maior. O indivíduo é aquela insignificante entidade condicionada, aflita, frustrada, satisfeita com seus pequeninos deuses e tradições; já o ente humano está interessado no bem-estar geral, no sofrimento geral e na total confusão em que se acha o mundo.

Nós, entes humanos, somos os mesmos que éramos há milhões de anos - enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos, ansiosos e desesperados, com ocasionais lampejos de alegria e afeição. Somos uma estranha mistura de ódio, medo e ternura; somos a um tempo a violência e a paz. Têm-se feito progressos, exteriormente, do carro de boi ao avião a jato, porém, psicologicamente, o indivíduo não mudou em nada, e a estrutura da sociedade, em todo o mundo, foi criada por indivíduos. A estrutura social, exterior, é o resultado da estrutura psicológica, interior, das relações humanas, pois o indivíduo é o resultado da experiência, dos conhecimentos e da conduta do homem, englobadamente. Cada um de nós é o depósito de todo o passado. O indivíduo é o ente humano que representa toda a humanidade. Toda a história humana está escrita em nós.

Observai o que realmente está ocorrendo dentro e fora de vós mesmo, na cultura de competição em que viveis, com seu desejo de poder, posição, prestígio, nome, sucesso etc.; observai as realizações de que tanto vos orgulhais, todo esse campo que chamais viver e no qual há conflito em todas as formas de relação, suscitando ódio, antagonismo, brutalidade e guerras intermináveis. Esse campo, essa vida, é tudo o que conhecemos, e como somos incapazes de compreender a enorme batalha da existência, naturalmente lhe temos medo e dela tentamos fugir pelas mais sutis e variadas maneiras. Temos também medo ao desconhecido - temor da morte, temor do que reside além do amanhã. Assim, temos medo ao conhecido e medo ao desconhecido. Tal é a nossa vida diária; nela, não há esperança alguma e, por conseguinte, qualquer espécie de filosofia, qualquer espécie de teologia representa meramente uma fuga à realidade - do que é.

Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, revoluções, reformas; pelas leis e ideologias, falharam completamente, pois não mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da sociedade. Como seres humanos, vivendo neste mundo monstruoso, perguntemos a nós mesmos: "Pode esta sociedade, baseada na competição, na brutalidade e no medo, terminar? - terminar, não como um conceito intelectual, como uma esperança, porém como um fato real, de modo que a mente se torne vigorosa, nova, inocente, capaz de criar um mundo totalmente diferente?" Creio que isso só ocorrerá se cada um de nós reconhecer o fato central de que, como indivíduos, como entes humanos - seja qual for a parte do universo em que vivamos, não importando a que cultura pertençamos - somos inteiramente responsáveis por toda a situação do mundo.

Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as guerras, geradas pela agressividade de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo, egoísmo, nossos deuses, preconceitos, ideais - pois tudo isso está a dividir-nos. E só quando percebemos, não intelectualmente, porém realmente, tão realmente como reconhecemos que estamos com fome ou que sentimos dor, bem como quando vós e eu percebemos que somos os responsáveis por todo este caos, por todas as aflições existentes no mundo inteiro, porque para isso contribuímos em nossa vida diária e porque fazemos parte desta monstruosa sociedade, com suas guerras, divisões, sua fealdade, brutalidade e avidez - só então poderemos agir.

Mas, que pode fazer um ente humano, que podeis vós e que posso eu fazer para criaruma sociedade completamente diferente? Estamos fazendo a nós mesmos uma pergunta muito séria. É necessário fazer alguma coisa? Que podemos fazer? Alguém no-lo dirá? Muita gente no-lo tem dito. Os chamados guias espirituais, que supõem compreender essas coisas melhor do que nós, no-lo disseram, tentando modificar-nos e moldar-nos em novos padrões, e isso não nos levou muito longe; homens sofisticados e eruditos no-lo têm dito, e também eles não nos levaram mais longe. Disseram-nos que todos os caminhos levam à verdade; vós tendes o vosso caminho, como hinduísta, outros o tem como cristão, e outros, ainda, o têm como muçulmano; mas, todos esses caminhos vão encontrar-se diante da mesma porta. Isso, quando o consideramos bem, é um evidente absurdo. A verdade não tem caminho, e essa é sua beleza; ela é viva. Uma coisa morta tem um caminho a ela conducente, porque é estática, mas, quando perceberdes que a verdade é algo que vive, que se move, que não tem pouso, que não tem templo, mesquita ou igreja, e que a ela nenhuma religião, nenhum instrutor, nenhum filósofo pode levar-vos - vereis, então, também, que essa coisa viva é o que realmente sois - vossa irascibilidade, vossa brutalidade, vossa violência, vosso desespero, a agonia e o sofrimento em que viveis. Na compreensão de tudo isso se encontra a verdade. E só o compreendereis se souberdes como olhar tais coisas de vossa vida. Mas não se pode olhá-las através de uma ideologia, de uma cortina de palavras, através de esperanças e temores.

Como vedes, não podeis depender de ninguém. Não há guia, não há instrutor, não há autoridade. Só existe vós, vossas relações com outros e com o mundo, e nada mais. Quando se percebe esse fato, ou ele produz um grande desespero, causador de pessimismo e amargura; ou, enfrentando o fato de que vós e ninguém mais sois o responsável pelo mundo e por vós mesmo, pelo que pensais, pelo que sentis, pela maneira como agis, desaparece de todo a autocompaixão. Normalmente, gostamos de culpar os outros, o que é uma forma de autocompaixão.

Poderemos, então, vós e eu, promover em nós mesmos sem dependermos de nenhuma influência exterior, de nenhuma persuasão, sem nenhum medo de punição - poderemos promover em nossa própria essência uma revolução total, uma mutação psicológica, para que não sejamos mais brutais, violentos, competidores, ansiosos, medrosos, ávidos, invejosos enfim, todas as manifestações de nossa natureza que formaram a sociedade corrompida em que vivemos nossa vida de cada dia?

Importa compreender desde já que não estou formulando nenhuma filosofia ou estrutura de idéias ou conceitos teológicos. Todas as ideologias se me afiguram totalmente absurdas. O importante não é uma filosofia da vida, porém que observemos o que realmente está ocorrendo em nossa vida diária, interior e exteriormente. Se observardes muito atentamente o que se está passando, se o examinardes, vereis que tudo se baseia num conceito intelectual. Mas o intelecto não constitui o campo total da existência; ele é um fragmento, e todo fragmento, por mais engenhosamente ajustado, por mais antigo e tradicional que seja, continua a ser uma parte insignificante da existência, e nós temos de interessar-nos pela totalidade da vida. Quando consideramos o que está ocorrendo no mundo, começamos a compreender que não há processo exterior nem processo interior; há só um processo unitário, um movimento integral, total, sendo que o movimento interior se expressa exteriormente, e o movimento exterior, por sua vez, reage ao interior. Ser capaz de olhar esse fato - eis o que é necessário, só isso; porque, se sabemos olhar, tudo se torna claríssimo. O ato de olhar não requer nenhuma filosofia, nenhum instrutor. Ninguém precisa ensinar-vos como olhar. Olhais, simplesmente.

Assim, vendo todo esse quadro, vendo-o não verbalmente porém realmente, podeis transformar-vos, natural e espontaneamente? Esse é que é o verdadeiro problema. Será possível promover uma revolução completa na psique?

Eu gostaria de saber qual é a vossa reação a uma pergunta dessas. Direis, porventura: "Não desejo mudar" - e a maioria das pessoas não o deseja, principalmente aqueles que se acham em relativa segurança, social e economicamente, ou que conservam crenças dogmáticas e se satisfazem em aceitar a si próprios e às coisas tais como são ou em forma ligeiramente modificada. Tais pessoas não nos interessam. Ou talvez digais, mais sutilmente: "Ora, isso é dificílimo, está fora do meu alcance". Nesse caso, já fechasses o caminho, já cessasses de investigar e será completamente inútil prosseguir. Ou, ainda, direis: "Percebo a necessidade de uma transformação interior, fundamental, em mim mesmo, mas como empreendê-la? Peço-vos me mostreis o caminho, me ajudeis a alcançá-la". Se assim falardes, então o que vos interessa não é a transformação em si, não estais realmente interessado numa revolução fundamental: estais, meramente, a buscar um método, um sistema capaz de efetuar a mudança.

Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos um sistema, e vós tão sem juízo que o seguísseis, estaríeis meramente a copiar, a imitar, a ajustar-vos, a aceitar, e, fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em vós mesmo a autoridade de outrem, do que resultaria conflito entre vós e essa autoridade. Pensais que deveis fazer tal e tal coisa porque vo-la mandaram fazer e, no entanto, sois incapaz de fazê-la. Tendes vossas peculiares inclinações, tendências e pressões, que colidem com o sistema que julgais dever seguir e, por conseguinte, existe uma contradição. Levareis, assim, uma vida dupla, entre a ideologia do sistema e a realidade de vossa existência diária. No esforço para ajustar-vos à ideologia, recalcais a vós mesmo e, no entanto, o que é realmente verdadeiro não é a ideologia, porém aquilo que sois. Se tentardes estudar-vos de acordo com outrem, permanecereis sempre um ente humano sem originalidade.
O homem que diz: "Desejo mudar, dizei-me como consegui-lo" - parece muito atento, muito sério, mas não o é. Deseja uma autoridade que ele espera estabelecerá a ordem nele próprio. Mas, pode algum dia a autoridade promover a ordem interior? A ordem imposta de fora gera sempre, necessariamente, a desordem. Podeis perceber essa verdade intelectualmente, mas sereis capaz de aplicá-la de maneira que vossa mente não mais projete qualquer autoridade - a autoridade de um livro, de um instrutor, da esposa ou do marido, dos pais, de um amigo, ou da sociedade? Como sempre funcionamos segundo o padrão de uma fórmula, essa fórmula torna-se em ideologia e autoridade; mas, assim que perceberdes realmente que a pergunta "como mudar?" cria uma nova autoridade, tereis acabado com a autoridade para sempre.

Repitamo-lo claramente: Vejo que tenho de mudar completamente, desde as raízes de meu ser; não posso mais depender de nenhuma tradição, porque foi a tradição que criou essa colossal indolência, aceitação e obediência; não posso contar com outrem para me ajudar a mudar, com nenhum instrutor, nenhum deus, nenhuma crença, nenhum sistema, nenhuma pressão ou influência externa. Que sucede então?

Em primeiro lugar, podeis rejeitar toda autoridade? Se podeis, isso significa que já não tendes medo. E então que acontece? Quando rejeitais algo falso que trazeis convosco há gerações, quando largais uma carga de qualquer espécie, que acontece? Aumentais vossa energia, não? Ficais com mais capacidade, mais ímpeto, maior intensidade e vitalidade. Se não sentis isso, nesse caso não 1argastes a carga, não vos livrasses do peso morto da autoridade.

Mas, uma vez vos tenhais livrado dessa carga e tenhais aquela energia em que não há medo de espécie alguma - medo de errar, de agir incorretamente - essa própria energia não é então mutação? Necessitamos de grande abundância de energia, e a dissipamos com o medo; mas, quando existe a energia que vem depois de nos livrarmos de todas as formas do medo, essa própria energia produz a revolução interior, radical. Nada tendes que fazer nesse sentido.

Ficais então a sós com vós mesmo, e esse é o estado real que convém ao homem que considera a sério estas coisas. E como já não contais com a ajuda de nenhuma pessoa ou coisa, estais livre para fazer descobertas. Quando há liberdade, há energia; quando há liberdade, ela não pode fazer nada errado. A liberdade difere inteiramente da revolta. Não há agir correta ou incorretamente, quando há liberdade. Sois livre e, desse centro, agis. Por conseguinte, não há medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor. E o amor pode fazer o que quer.

O que agora vamos fazer, por conseguinte, é aprender a conhecer-nos, não de acordo comigo ou de acordo com um certo analista ou filósofo; porque, se o fazemos de acordo com outras pessoas, aprendemos a conhecer essas pessoas e não a nós mesmos. Vamos aprender o que somos realmente.

Tendo percebido que não podemos depender de nenhuma autoridade exterior para promover a revolução total na estrutura de nossa própria psique, apresenta-se a dificuldade infinitamente maior de rejeitarmos nossa própria autoridade interior, a autoridade de nossas próprias e insignificantes experiências e opiniões acumuladas, conhecimentos, idéias e ideais. Digamos que tivestes ontem uma experiência que vos ensinou algo, e isso que ela ensinou se torna uma nova autoridade, e vossa autoridade de ontem é tão destrutiva quanto a autoridade de um milhar de anos. A compreensão de nós mesmos não requer nenhuma autoridade, nem a do dia anterior nem a de há mil anos, porque somos entidades vivas, sempre em movimento, sempre a fluir e jamais se detendo. Se olhamos a nós mesmos com a autoridade morta de ontem, nunca compreenderemos o movimento vivo e a beleza e natureza desse movimento.

Livrar-se de toda autoridade, seja própria, seja de outrem, é morrer para todas as coisas de ontem - para que a mente seja sempre fresca, sempre juvenil, inocente, cheia de vigor e de paixão. Só nesse estado é que se aprende e observa. Para tanto, requer-se grande capacidade de percebimento, de real percebimento do que se está passando no interior de vós mesmo, sem corrigirdes o que vedes, nem dizerdes o que deveria ou não deveria ser. Porque, tão logo corrigis, estais estabelecendo outra autoridade, um censor.

Vamos, pois, investigar juntos a nós mesmos; ninguém ficará explicando enquanto ides lendo, concordando ou discordando do explicador ao mesmo tempo que ides seguindo as palavras do texto, porém vamos fazer juntos uma viagem, uma viagem de exploração dos mais secretos recessos de nossa mente. Para empreender essa viagem, precisamos estar livres; não podemos transportar uma carga de opiniões, preconceitos e conclusões - todos os trastes imprestáveis que juntamos no decurso dos últimos dois mil anos ou mais. Esquecei-vos de tudo o que sabeis a respeito de vós mesmo. Esquecei-vos de tudo o que pensastes a vosso respeito; vamos iniciar a marcha como se nada soubéssemos.

A noite passada choveu torrencialmente e agora o céu está começando a limpar-se; é um dia novo, fresco. Encontremo-nos com este dia novo como se fosse nosso único dia. Iniciemos juntos a jornada, deixando para trás todas as lembranças de ontem, e comecemos a compreender-nos pela primeira vez.

quinta-feira, 29 de maio de 2008


Não dá pra acreditar - eu sou feliz!

"Meu médico insistiu para que eu viesse vê-lo', disse o paciente ao psiquiatra. 'Não sei o porquê - pois eu sou feliz no casamento, tenho segurança no meu trabalho, muitos amigos, nenhum problema...' 'Hmmmm,' disse o psiquiatra, procurando por seu caderno de anotações, 'e há quanto tempo você vem se sentindo assim?' "Felicidade não é algo fácil de se acreditar. Parece que o homem não pode ser feliz. Se você falar sobre sua tristeza, depressão e miséria, todo mundo irá acreditar. Isso parece ser natural. Mas se você falar sobre a sua felicidade, ninguém acreditará em você - isso parece ser não-natural. Sigmund Freud, depois de quarenta anos de pesquisas a respeito da mente humana, trabalhando com milhares de pessoas, observando milhares de distúrbios mentais, chegou à conclusão de que a felicidade é uma ficção: o homem não pode ser feliz. No máximo, nós podemos fazer coisas um pouco mais confortáveis, e isso é tudo. No máximo, nós podemos tornar a infelicidade um pouco menor, e isso é tudo. Mas, feliz, o homem não pode ser. Isso parece ser muito pessimista, mas se olharmos para o homem moderno, veremos que é exatamente assim; parece que isso é um fato. Buda diz que o homem pode ser feliz, tremendamente feliz. Krishna canta canções sobre a felicidade suprema - satchitanand. Jesus fala a respeito do Reino de Deus. Mas como você pode acreditar em tão poucas pessoas, as quais podemos contar nos dedos, contra toda a massa, milhões e milhões de pessoas ao longo dos séculos, que permanecem infelizes, caminhando mais e mais em direção à infelicidade. Toda a vida dessas pessoas é uma história de miséria e nada mais. E depois vem a morte! Como acreditar naquelas poucas pessoas? Ou elas estão mentindo, ou elas estão enganadas. Ou elas estão mentindo por algum motivo, ou elas são meio malucas, enganadas pelas próprias ilusões. Elas devem estar vivendo para satisfazer um desejo. Elas queriam ser felizes e começaram a acreditar que elas eram felizes. Mais do que um fato, isso parece uma crença, uma crença desesperada, Mas como aconteceu dessas poucas pessoas se tornarem felizes? Se você deixar o homem de lado, se você não prestar muita atenção ao homem, então Buda, Krishna, Cristo irão parecer que são mais verdadeiros. Se você olhar para as árvores, se você olhar para os pássaros, se você olhar para as estrelas, então verá que tudo está vibrando em tremenda felicidade. Parece que a felicidade é a matéria-prima com a qual a existência é feita. E somente o homem é infeliz. No fundo, alguma coisa está errada. Buda não está enganado, nem está mentindo. E eu digo isso a você, não com base na autoridade da tradição; eu digo isso a você com base na minha própria autoridade. O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz que as árvores, mais feliz que as estrelas, porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem. O homem tem consciência. Mas quando você tem consciência, então duas alternativas são possíveis: ou você pode tornar-se infeliz, ou você pode tornar-se feliz. A escolha é sua. As árvores simplesmente estão felizes porque elas não podem ser infelizes. A felicidade delas não é liberdade; elas têm que ser felizes. Elas não sabem como ser infelizes, não existe outra alternativa. Esses pássaros gorjeando nas árvores, eles são felizes. Não porque eles tenham escolhido ser felizes; eles simplesmente são felizes porque eles não conhecem outra maneira de ser. A felicidade deles é inconsciente. Ela é simplesmente natural. O homem pode ser tremendamente feliz, e tremendamente infeliz. Ele é livre para escolher. Essa liberdade é um risco. Essa liberdade é muito perigosa, porque você se torna responsável. E algo aconteceu com essa liberdade. Alguma coisa está errada. O homem está, de uma certa maneira, de cabeça para baixo. Você veio até a mim, procurando por meditação. A meditação é necessária somente porque você não escolheu ser feliz. Se você tivesse escolhido ser feliz, não haveria nenhuma necessidade de meditação. A meditação é medicinal: se você está doente, então o medicamento é necessário. Os Budas não precisam de meditação. Uma vez que você começou a escolher a felicidade, uma vez que você decidiu que você tem que ser feliz, então nenhuma meditação é necessária. A meditação começará a acontecer naturalmente, por ela mesma. A meditação é uma função do estar feliz. A meditação segue o homem feliz como uma sombra: em qualquer lugar que ele for, qualquer coisa que ele estiver fazendo, ele estará meditativo. Ele estará intensamente centrado. A palavra 'meditação' e a palavra 'medicação' têm a mesma raiz; e isso é muito significativo. A meditação também é medicinal. Você não carrega vidros de remédios nem receitas médicas se você estiver com saúde. Naturalmente, quando você não está com saúde, você tem que ir ao médico. Ir ao médico não é uma grande coisa para ficar fazendo alarde. A pessoa deve se sentir feliz se o médico não for necessário. Existem muitas religiões, porque existem muitas pessoas infelizes. Uma pessoa feliz não precisa de religião. Uma pessoa feliz não precisa de templo, nem de igreja, porque para uma pessoa feliz, todo o universo é um tempo, toda a existência é uma igreja. Uma pessoa feliz não tem nada parecido com uma atividade religiosa, porque toda a sua vida já é religiosa. Qualquer coisa que você fizer com felicidade será uma prece; seu trabalho se tornará um culto, a sua própria respiração terá um esplendor, uma graça. Não que você repita constantemente o nome de Deus - somente as pessoas tolas fazem isso - porque Deus não tem nome algum, e por repetir algum suposto nome você simplesmente tornará estúpida a sua mente. Por repetir o Seu nome você não irá a lugar algum. Um homem feliz simplesmente vê Deus em todo lugar. E você precisa de olhos felizes para ver Deus. Se você quer ser feliz, então comece a fazer escolhas naturais. Há muitas ocasiões em que você terá que ser desobediente - seja! Haverá muitas ocasiões em que você terá que ser rebelde - seja! Não há nenhum desrespeito implícito nisso. Seja respeitoso com seus pais. Mas lembre-se de que a sua mais profunda responsabilidade é com o seu próprio ser. Todo mundo está sendo empurrado e manipulado. Ninguém sabe qual é o seu destino. O que você realmente sempre quis fazer, foi deixado de lado. E como você pode ser feliz? Alguém que poderia ter sido um poeta, tornou-se simplesmente um emprestador de dinheiro. Alguém que poderia ter sido um pintor, tornou-se um médico. Alguém que poderia ter sido um médico, um belo médico, é agora um homem de negócios. Todo mundo está fora do lugar. Todo mundo está fazendo alguma coisa que nunca quis fazer; daí a infelicidade. A felicidade acontece quando a sua vida se encaixa com o que você é, quando se encaixa tão harmoniosamente que qualquer coisa que você fizer será pura alegria. Então, de repente, você descobrirá que a meditação segue você. Se você ama o trabalho que está fazendo, se você ama a maneira como está vivendo, então você está meditativo. Então nada irá desviar você. Quando você se desvia de certas coisas, isso simplesmente demonstra que você não está realmente interessado naquelas coisas. Nós temos nos desviado por motivos não naturais: dinheiro, prestígio, poder. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar dinheiro. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar poder e prestígio. Observar uma borboleta não irá ajudá-lo economicamente, politicamente, socialmente. Essa coisas não lhe trarão remuneração, mas essas coisas irão fazê-lo feliz. Uma pessoa verdadeira tem coragem de se voltar para as coisas que a fazem feliz. Se com isso ela permanecer pobre, ela permanecerá pobre; ela não reclamará disso, ela não guardará nenhum rancor. Ela dirá: 'Eu escolhi o meu caminho, eu escolhi o cantar dos pássaros e as borboletas e as flores. Eu posso não ser rico, tudo bem, mas eu sou rico porque eu sou feliz.' Esse tipo de homem não necessita de qualquer método para se centrar, por que não é preciso, ele está centrado. Seu centramento está por toda a sua vida. Vinte e quatro horas por dia ele está centrado. Em qualquer lugar que você vê dinheiro, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê poder e prestígio, você já não é mais você mesmo. Em qualquer lugar que você vê respeitabilidade, você já não é mais você mesmo. Imediatamente você esquece tudo - você esquece os valores intrínsecos de sua vida, a sua felicidade, a sua alegria, o seu deleite. Você sempre escolhe algo do lado de fora, e você barganha com algo do lado de dentro. Você perde o interior e ganha o lado de fora. Mas o que você vai fazer com isso? Mesmo se você tiver todo o mundo aos seus pés, mas se você tiver perdido a si mesmo; mesmo se você tiver conquistado todas as riquezas do mundo, mas se você tiver perdido seu próprio tesouro interior, o que você fará com tudo aquilo? Essa é a miséria. Se você puder aprender uma coisa comigo, então que essa coisa seja: esteja alerta, consciente a respeito de seus próprios motivos mais internos, a respeito de seu próprio destino mais interno. Nunca perca você mesmo de vista, de outra maneira você será infeliz. E quando você estiver infeliz, as pessoas irão dizer: 'medite e você se tornará feliz!' Elas dirão: 'Esteja centrado e você se tornará feliz; ore e você se tornará feliz; vá ao templo, seja religioso, seja um cristão ou um hindu, e você será feliz'. Tudo isso é tolice. Seja feliz! e a meditação virá em seguida. Seja feliz, e a religião virá em seguida. Felicidade é a condição básica. As pessoas se tornam religiosas somente quando elas estão infelizes; então a religião delas é falsa. Tente entender porque você está infeliz. Muitas pessoas vêm a mim e dizem que elas são infelizes, e elas querem que eu lhes dê alguma meditação. Eu digo: primeiro, a coisa básica é compreender porque vocês estão infelizes. E se vocês não removerem todas as causas básicas de sua infelicidade, eu posso lhes dar uma meditação, mas isso não vai ser de grande ajuda, porque as causas básicas permanecem aí. Um certo homem poderia ter sido um grande e belo dançarino, mas ele está sentado num escritório arquivando fichas. Sem qualquer possibilidade para a dança. O homem poderia ter curtido dançar sob as estrelas, mas ele segue simplesmente acumulando contas bancárias. E ele diz que está infeliz: 'me dê alguma meditação.' Eu posso dar a ele, mas o que essa meditação irá fazer? O que se espera que ela possa fazer? Ele vai permanecer o mesmo homem: acumulando dinheiro e sendo competitivo no mercado. A meditação poderá ajudar da seguinte maneira: poderá fazer com que ele fique um pouco mais relaxado para seguir fazendo essas tolices, e de uma maneira ainda melhor. Então, o meu chamado é somente para aqueles que são realmente ousados, aqueles que desafiam o demônio, aqueles que estão prontos para mudar os seus próprios padrões de vida, aqueles que estão prontos para apostar tudo - porque na verdade você nada tem para apostar: somente a sua infelicidade, a sua miséria. Mas as pessoas se agarram até mesmo a isso. O que mais você tem para apostar? Só a miséria. E o único prazer que você tem é falar a respeito dela. Observe as pessoas falando a respeito de suas misérias: quão felizes elas se tornam! Elas pagam por isso: elas vão aos psicanalistas para falar a respeito de suas misérias - e elas pagam por isso! Alguém as escuta atentamente, e elas se sentem felizes. As pessoas seguem falando a respeito de suas misérias, repetidamente. Elas até mesmo exageram, elas enfeitam, elas fazem com que as suas misérias pareçam ainda maiores. Elas fazem com que elas pareçam maiores do que a duração de suas vidas. Por que? Você nada tem para apostar. Mas as pessoas se apegam ao conhecido, ao que é familiar. A miséria é tudo o que elas têm conhecido; isso tem sido a vida delas. Nada têm a perder, mas com tanto medo de perder... Comigo, a felicidade vem primeiro, a alegria vem primeiro. A atitude celebrativa vem primeiro. Uma filosofia afirmativa de vida vem primeiro. Curta! E se você não puder curtir o seu trabalho, mude. Não espere! Porque todo o tempo que você está esperando, você está esperando por Godot. E Godot nunca vem. A pessoa simplesmente espera, e desperdiça sua própria vida. Por quem e por que você está esperando? Se você puder ver o ponto, que você está miserável dentro de um certo padrão de vida, e que todas as velhas tradições dizem: Você está errado. Eu gostaria de dizer que o padrão é que está errado. Tente entender a diferença na ênfase: Você não está errado! É só o seu padrão, a maneira de viver que você aprendeu é que está errado. As motivações que você aprendeu e aceitou como suas, não são suas. Elas não irão realizar o seu destino. Elas vão contra a sua essência, elas vão contra o que lhe é elementar. Lembre-se disso: ninguém mais pode decidir por você. Todos os mandamentos deles, todas as ordens deles, todas as moralidades deles, são simplesmente para matar você. Você tem que decidir ser você mesmo. Você tem que tomar sua vida em suas próprias mãos. De outra maneira a vida vai seguir batendo em sua porta e você nunca estará lá; você estará sempre em algum outro lugar. Se você tinha que ser um dançarino, a vida virá por aquela porta, porque ela pensa que você é um dançarino. Ela bate na porta, mas você não está lá; você é um bancário. E como a vida vai saber que você se tornou um bancário? Deus vem a você da maneira que ele quer você seja; ele conhece apenas aquele endereço. Mas você nunca é encontrado lá, você está sempre em algum outro lugar, escondendo-se atrás da máscara de alguém que não é você, com os trajes de alguém que não é você e usando o nome de alguém que não é você. Como você espera que Deus possa encontrá-lo? Ele segue procurando por você. Ele sabe o seu nome, mas você abandonou aquele nome. Ele conhece o seu endereço, mas você nunca morou lá. Você permitiu que o mundo desviasse você. Por que na cabeça de todo mundo surge essa idéia de que a meditação traz felicidade? De fato, sempre que eles encontram uma pessoa feliz, eles encontram uma mente meditativa, essas duas coisas estão associadas. Sempre que eles encontram uma bela atmosfera meditativa circundando um homem, eles sempre descobrem que ele estava tremendamente feliz; vibrante com a alegria, radiante. Essas coisas se tornaram associadas. E eles pensam que a felicidade vem quando você está meditativo. E é exatamente o oposto: a meditação é que vem quando você está feliz. Mas ser feliz é difícil e aprender a meditar é fácil. Ser feliz significa uma drástica mudança em sua maneira de viver, uma mudança abrupta, porque não há nenhum tempo a perder. Uma mudança súbita, um repentino estrondo de trovão (a sudden clash of thunder), uma descontinuidade. Isso é o que eu entendo por sânias: uma descontinuidade com o passado. Um repentino estrondo de trovão, e você morre para o velho e então, revigorado, você recomeça do bê-a-bá. Você nasce de novo. Você começa de novo a sua vida, como você começaria se os padrões não tivessem sido impostos a você pelos seus pais, pela sociedade, pelo Estado; como se ninguém tivesse desviado você. Mas você foi desviado. Você tem que deixar de lado todos os padrões que foram impostos a você, e você tem que encontrar a sua própria chama interior. Não se preocupe muito com o dinheiro, porque ele é o maior desvio da felicidade. E a ironia das ironias é que as pessoas pensam que elas serão felizes quando elas tiverem dinheiro. Dinheiro nada tem a ver com felicidade. Se você é feliz e você tem dinheiro, você pode usá-lo para a felicidade. Se você é infeliz e tem dinheiro, você usará aquele dinheiro para mais infelicidades. Porque o dinheiro é simplesmente uma força neutra. Eu não sou contra o dinheiro, lembre-se. Não me interprete mal. Eu não sou contra o dinheiro, eu não sou contra nada. Dinheiro é um meio. Se você for feliz e você tiver dinheiro, você se tornará mais feliz. Se você for infeliz e tiver dinheiro, você se tornará mais infeliz, por que o que você fará com o seu dinheiro? O dinheiro vai realçar o seu padrão, seja qual ele for. Se você for miserável e tiver poder, o que você fará com o seu poder? Você irá envenenar a si próprio ainda mais com o seu poder, você se tornará mais miserável. Mas as pessoas seguem atrás do dinheiro como se o dinheiro fosse trazer felicidade. As pessoas seguem procurando por respeitabilidade como se respeitabilidade fosse lhe dar felicidade. As pessoas estão prontas a qualquer momento, para mudar os seus padrões, para mudar os seus caminhos, desde que haja mais dinheiro disponível em algum outro lugar. Uma vez que o dinheiro esteja ali, então de repente você não é mais você mesmo, você está pronto para mudar. Esse é o caminho do homem mundano. Eu não digo que pessoas mundanas são aquelas que têm dinheiro. Eu chamo de pessoas mundanas aquelas que mudam os seus motivos por causa do dinheiro. Eu não digo que as pessoas que não tem dinheiro não sejam mundanas. Elas podem ser simplesmente pobres. Eu digo que as pessoas não são mundanas quando elas não mudam seus motivos por causa de dinheiro. Só por ser pobre não equivale a ser espiritual. E só por ser rico não é equivalente a ser um materialista. O padrão materialista de vida é aquele em que o dinheiro predomina acima de tudo. A vida não materialista é aquela em que o dinheiro é simplesmente um meio; a felicidade predomina, a alegria predomina, a sua própria individualidade predomina. Você sabe quem você é, e para onde está indo, e você não está se desviando. Então, de repente, você vê que a sua vida adquiriu uma qualidade meditativa. Mas em algum ponto do caminho, todo mundo se perdeu. Você foi educado por pessoas que não se realizaram. Você foi educado por pessoas que não tinham saúde. Você pode sentir pena delas. Eu não estou lhe dizendo para ser contra elas. Eu não as estou condenando, lembre-se. Simplesmente sinta compaixão por elas. Os pais, os professores do colégio e da universidade, os chamados líderes da sociedade, eles foram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão infeliz em você. E você ainda não assumiu a sua própria vida. Eles viveram segundo uma interpretação errada, e essa foi a miséria deles. E você também está vivendo segundo uma interpretação errada. A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa feliz. A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa alegre. A meditação é muito simples para uma pessoa que pode celebrar, que pode curtir a vida. Mas você tem tentado isso de uma outra maneira, e assim não é possível. OSHO - A Sudden Clash of Thunder (Tradução: Sw. Bodhi Champak)

Esforçar-se ou deixar acontecer?

“Querido Osho, Nestes nove anos que o acompanho, eu sinto que fiz tudo, até onde a inteligência foi capaz, para estar com você. E ainda me sinto, agora, em maior caos e confusão, e mais ignorante do que nunca. Eu me sinto mesmo no ponto de desistir. Existe alguma coisa que eu deveria estar fazendo? Existe algum jeito de ser mais inteligente e estar mais desperto? Porque eu estou certo de já ter perdido mil vezes a oportunidade. Será ótimo se você puder desistir. Este é o problema. Desde o começo, eu tenho lhe dito: não comece; desista! Mas você não ouve. Nove anos de grande trabalho, de esforço, e você ainda pergunta, ‘Eu deveria estar sendo mais inteligente, e estar trabalhando mais?’ E você acha que perdeu o trem porque não estava se esforçando o bastante! É exatamente o oposto. Você está perdendo o trem porque está se esforçando muito. Você está tão envolvido em seu trabalho que não vê que o trem já chegou e partiu. Na hora que você perceber que os outros passageiros já se foram, aí você vai ficar ciente de que o trem já passou. Simplesmente desista e descance na plataforma. O trem sempre vem... Qual a necessidade de perder o trem? Mas você não consegue descansar, não consegue relaxar, não consegue deixar as coisas acontecerem. Você fez disso um projeto. Você está tenso, orientado pela meta, sempre tentando alcançar alguma coisa. E aqui você encontrou um homem que está lhe dizendo que tudo o que você quer alcançar já está aí, dentro de si. Basta relaxar, porque somente no relaxamento você perceberá o que está escondido dentro de si. Mas você está correndo tão depressa. Você não pára, você está colocando toda a sua inteligência... há nove anos! Você poderia ter feito isto no primeiro dia que chegou a mim. E você pode fazer isto exatamente agora, porque o trem está sempre parado na plataforma. Ele nunca parte, porque não existe para onde ir.” Worry - Osho Neo Tarot Bombaim, 20 de outubro de 1986. 4ª pergunta: “Querido Osho, Antes de me tornar seu sannyasin, eu estava procurando desesperadamente a verdade espiritual. Apesar das experiências que eu sentia ser genuinamente espirituais, eu permanecia insatisfeito e desesperado. Depois do sannyas, eu comecei a viver com o seu povo, a trabalhar em suas comuna e, mais do que tudo, a sentir sua beleza e paz crescendo em meu coração. Nesse período, meus desejos ardentes de experiências espirituais e dos frutos dessas experiências foram desaparecendo pouco a pouco. Atualmente eu simplesmente me deleito com a vida cotidiana e com tudo que acontece nela – uma comida gostosa, um passeio na roça, uma boa gargalhada com a namorada, e assim por diante. Querido mestre, eu estou ficando preguiçoso no caminho da iluminação? Você poderia falar sobre a diferença entre cair no sono e deixar as coisas acontecerem? Você está indo perfeitamente bem. Simplesmente esqueça tudo a respeito de iluminação. Curta as coisas simples com total intensidade. Uma simples xícara de chá pode ser uma profunda meditação. Você pode desfrutá-la, apreciar o seu aroma, beber ao poucos, sentindo o seu sabor... O que Deus tem a ver com isso? Você não sabe que Deus está constantemente sentindo inveja de você quando o vê tomando uma xícara de chá, pois ele não consegue fazer isto. Café solúvel... Estas coisas não estão disponíveis no Jardim do Éden. E desde que Adão e Eva deixaram o paraíso, não restou ali nenhuma companhia humana. Ele tem vivido ali apenas entre animais, que não sabem como fazer um chá. Deus tem muita inveja de você e está muito arrependido de ter expulso Adão e Eva do Jardim do Éden, mas agora nada pode ser feito. Os filhos e filhas de Adão e Eva estão vivendo uma vida muito mais bela e mais rica. A iluminação acontece quando você se esquece de tudo a respeito disto. Não olhe nem mesmo com o canto dos olhos para conferir se a iluminação está chegando e se você irá perdê-la. Esqueça tudo sobre isto. Simplesmente desfrute a sua vida simples. E tudo é tão belo. Por que criar ansiedade e angústia desnecessária para si mesmo? Estranhos problemas de espiritualidade... Estas questões não são algo sobre o qual você possa fazer alguma coisa. Se você puder fazer de sua vida comum algo de belo e artístico, tudo aquilo que você sempre desejou começará a acontecer naturalmente. Ordinariness - Osho Neo Tarot Existe uma bela história: Existe um templo neste estado de Maharastra. É um templo de Krishna e uma história estranha está relacionada com este templo por causa de uma estátua de Krishna que ali está em pé sobre um tijolo. Em Maharastra ela é chamada de Bitthal. É estranho porque em nenhum outro lugar, existe um deus dentro de um templo em pé sobre um tijolo. A história é que um belo homem, curtindo cada detalhe da vida em sua totalidade, estava tão satisfeito e tão preenchido que Krishna decidiu aparecer diante dele. Era comum haver pessoas que passavam a vida inteira cantando e dançando, ‘Hare Krishna, Hare Rama’ e nem Rama nem Krishna apareciam. Este homem não estava preocupado nem com Krishna, nem com Rama, nem com ninguém. Ele simplesmente estava vivendo a sua vida, mas vivendo-a da maneira que ela deve ser vivida: com amor, com coração, com beleza, com música, com poesia. A sua vida era uma bênção e Krishna decidiu que aquele homem necessitava de uma visita dele. Entenda a história: o homem nem estava pensando em Krishna, mas Krishna sentiu que o homem merecia uma visita sua. Ele foi visitá-lo no meio da noite para não criar qualquer tipo de problema com o resto da cidade. Ele encontrou a porta aberta e entrou. A mãe do homem estava muito doente e ele estava fazendo massagem em seus pés. Krishna chegou por trás dele e disse, ‘Eu sou Krishna e vim até aqui para lhe dar uma audiência, um darshan.’ O homem lhe disse, ‘você veio numa hora errada, eu estou massageando os pés de minha mãe.’ Enquanto isso, ele empurrou para trás um tijolo que estava a seu lado, e nem mesmo olhou para trás para ver quem era esse tal de Krishna. Ele empurrou o tijolo e lhe disse para ficar em pé sobre ele, e que quando ele terminasse o seu trabalho iria vê-lo. Mas ele estava tão absorvido na massagem dos pés de sua mãe que estava quase morrendo, que toda a noite se passou e Krishna permaneceu ali, em pé. Ele disse, ‘Isto é uma estupidez estranha. As pessoas têm cantado por toda a vida – Hare Krishna, Hare Rama – e eu nunca apareço. E eu vim até aqui e esse tolo nem mesmo olha para trás, nem mesmo para me dizer - sente-se. Ao contrário, ele me disse para ficar em pé sobre o tijolo.’ E quando começou a clarear, o sol já estava nascendo, Krishna ficou com receio pois as pessoas iriam chegar. A rua era do lado da casa e a porta estava aberta. Se as pessoas o vissem ali em pé, logo haveria problema, a multidão iria se aproximar. Assim, ele desapareceu, deixando apenas uma estátua de pedra, de si mesmo, sobre o tijolo. Quando a mãe dormiu, o homem virou-se para trás e disse, ‘Quem é aquele camarada que esteve me perturbando por toda noite?’ Foi quando ele viu uma estátua de Krishna. Todo o povo da vila se reuniu. Era um milagre que tinha ocorrido? Daí, ele contou toda a história. Eles lhe disseram, ‘Você é um sujeito estranho. O próprio Krishna esteve aqui e você foi tão tolo. Você deveria pelo menos ter dito a ele para se sentar, ter-lhe oferecido algo para comer, algo para beber. Ele era uma visita.’ O homem disse, ‘Naquele momento eu nada tinha a meu lado a não ser aquele tijolo. E sempre que eu estou fazendo alguma coisa, eu faço com minha totalidade. Eu não gosto de ser interrompido. Se ele estivesse muito interessado em ser visto, ele poderia voltar outra hora, ele não precisava estar com pressa.’ A estátua permanece no templo de Bitthal, ainda em pé sobre um tijolo. Mas o homem era realmente um grande homem, sem se preocupar com recompensas ou coisa assim, absorvido tão totalmente em cada ação que a própria ação se tornava uma recompensa. E mesmo se Deus viesse, a recompensa que teria com a sua totalidade na ação, seria maior do que Deus. Ninguém interpreta esta história da maneira que eu faço, mas você pode perceber que qualquer outra interpretação é pura tolice. Sendo assim, esqueça tudo a respeito de espiritualidade, de iluminação, de Deus. Eles que cuidem de si mesmos. Isso é problema deles. Não se preocupe, faça o melhor que puder fazer com a vida. Este é o seu teste, esta é a sua devoção, esta é a sua religião. Tudo o mais acontece naturalmente.” OSHO – Beyond Enlightenment – Palestra n° 18 Tradução: Sw. Bodhi Champak

A mente é orientada por metas

"É a ambição, é algum desejo, é alguma esperança no futuro que mantém o corpo movimentando-se. A palavra usada por Gautama Buda para essa ambição, desejo ou esperança é tanha. Ela contém todas essas coisas. Você está sempre buscando alguma coisa para acontecer em sua vida; você não viveu ainda. O passado está vazio; você sabe que ele foi um deserto. A única maneira para movimentar-se é manter os olhos lá longe, em alguma estrela. Isso é apenas a sua imaginação, mas é suficiente para manter o corpo em movimento. Se nada aconteceu até agora, não há qualquer garantia de que acontecerá no futuro. O amanhã está sempre aberto, e é o amanhã que mantém o corpo e a mente em movimento. E não apenas durante uma vida. A compreensão oriental é muito mais profunda que a ocidental a respeito dos segredos internos. Todos os místicos nascidos no Oriente podem discordar em todos os outros pontos, mas em um ponto a concordância deles é absoluta, e esse ponto é a reencarnação. Não é apenas em uma vida que você segue movimentando-se por causa de alguns ou muitos desejos. Você segue movimentando-se de uma vida para outra, de um útero para outro, mas a razão é a mesma: o movimento significa que você tem alguma coisa no futuro a ser alcançada. O seu futuro está atraindo você. Você está fascinado por todas as possibilidades que podem ser suas. Você não se acabou só porque o passado foi vazio. O futuro pode ser mais completo, mais rico e melhor. É essa esperança que está sempre ali e nunca morre. Todo dia você vê essa esperança sendo decepcionada, por toda a sua vida você vê ela sendo decepcionada, mas ainda assim, o futuro está aí, sempre disponível, aberto e dando a você tantas chances quantas você queira. Pode ocorrer, em meditação profunda, que você chegue a uma parada completa, a um estado de não-movimento, à simples sensação de que não há qualquer necessidade de se movimentar, nenhuma necessidade de se ir a lugar algum, porque não há lugar algum para se ir. Você tem estado correndo atrás de sombras por muitas vidas e até agora tudo tem provado ser sem sentido, você nunca chegou a meta alguma. Em meditação profunda, a percepção pode vir de que não há meta alguma e que todo movimento é fútil. Se não há meta alguma, não há qualquer necessidade de se movimentar, uma vez que todo movimento é orientado por metas. Eles estão juntos. Se a meta desaparece de sua mente, você vai sentir diminuindo a marcha em seu corpo e em sua mente. Um relaxamento profundo vai se assentando. Esta é uma das mais belas experiências. A proposta da meditação é, na verdade, trazê-lo a essa parada completa, onde, pela primeira vez, você não está mais motivado por qualquer desejo, por qualquer ambição, por qualquer anseio. Pela primeira vez, o futuro terá desaparecido. Ele nunca existiu. Era apenas a sua imaginação. O futuro é a sua projeção de desejos não realizados. Quanto mais desejos não realizados você tiver, maior será o seu futuro projetado. Quanto mais o seu ser não se realizar, mais ricos sonhos você terá sobre o futuro. Mas isso existe apenas em sua mente. Nós dividimos o tempo em 3: passado, presente e futuro. Mas é uma divisão errada. O tempo consiste apenas no presente e a mente consiste apenas no passado e no futuro. Você está misturando as duas coisas juntas. A meditação lhe ajudará a dar clareza para dividi-los exatamente como eles são. A mente é memória do passado e imaginação do futuro. Mas o tempo em si mesmo é indivisível, é somente o presente. Você nunca encontra o ontem e nunca encontra o amanhã. O que você, na verdade, encontra sempre é o momento presente. No momento em que você percebe isso, você começa a assentar em si mesmo. Todo movimento é do lado de fora, todo movimento é extroversão. Não-movimento é introversão, é ir para dentro, simplesmente assentando-se no verdadeiro centro de seu ser... sem qualquer agitação, sem qualquer pensamento, sem qualquer sonho e sem qualquer desejo. Esse é na verdade o estado de meditação. A mente se foi com o movimento. Ela era apenas um outro nome para movimento. Ela o mantém ocupado e atarefado com o futuro, com o passado, com tudo, exceto com o presente. Ela é muito relutante em vir para o presente. É por isso que as pessoas sentem dificuldades para meditar. A mente puxa você ou para o passado, onde ela é perfeitamente feliz, ou para o futuro, porque somente no passado ou no futuro ela consegue viver. O presente nada mais é do que a morte para a mente, mas a morte para a mente é o começo de sua vida autêntica. A mente o mantém vivendo uma vida não autêntica. Todo o seu desespero, toda a sua agonia, toda a sua miséria são filhos de sua mente. Assim que o movimento pára, a mente pára. De repente, você está aqui e agora. Pela primeira vez você toca a Existência. Pela primeira vez você está acordado. O sonho da mente, o sono da mente não mais estão aí. Nesse momento de despertar, você se encontra. Não o ego que você costumava pensar que era você, não a velha personalidade na qual você sempre acreditou e com a qual você permaneceu identificado. Aquela personalidade e aquele ego eram partes da mente. Com a mente, eles desapareceram. Toda aquela cerração não está mais ali, mas uma claridade limpa como cristal, uma transparência, um silêncio vivo e cheio de paz. E surge uma alegria sutil e profunda como nunca você conheceu igual. Você nem mesmo pode ter concebido ou sonhado tal alegria. Isso não é apenas o seu 'self', isso é o 'self' universal também. E porque isso é também o 'self' universal, Gautama Buda decidiu chamar essa experiência de 'não-self', simplesmente para enfatizar que você não é mais. A Existência é, você já se foi. Agora o Todo assumiu a direção. Você está consciente, pela primeira vez, consciente em totalidade. E novas coisas começam acontecer a você. Elas são exatamente o oposto daquilo que a mente estava criando. No lugar da agonia, você tem êxtase; no lugar da miséria, uma tremenda felicidade; no lugar do desespero, você estará completamente tranqüilo; no lugar da sensação de falta de sentido, pela primeira vez você verá a significância, a beleza e a glória de tudo que a existência tem lhe dado. E sem qualquer esforço de sua parte, um tremendo impulso surge para agradecer o Todo, para estar grato, para dançar e cantar em gratidão. Para mim, a única prece verdadeira é aquela que vem da gratidão, não endereçada a um deus qualquer, ou para obter alguma coisa, mas endereçada a toda a Existência por tudo aquilo que já foi dado a você. Isso é tanto... De repente você vê que você não merece tudo isso. Você jamais ganhou algo assim: toda essa beleza, todas essas bênçãos e todo esse êxtase. Você nem consegue conceber que tenha ganho isso. Isso é simplesmente um presente do além. Você apenas consegue curvar-se diante disso, não diante de alguém em particular, mas simplesmente diante do Todo que circunda você. Assim como um peixe é circundado pelo oceano, você é circundado pelo Todo. Você está dizendo: 'Durante o exercício do caminhar consciente no grupo de Vipassana, hoje, eu observei que a minha velocidade foi diminuindo e parou. Parecia não haver necessidade alguma de movimento. Para onde, para quê? Simplesmente não mais havia qualquer meta.' Certamente não existe meta. A Existência é suficiente em si mesma. Uma meta é necessária somente para aqueles que estão se sentindo vazios. Uma vez que você conheça a sua plenitude, você não tem qualquer espaço para alguma meta dentro de você. Você não apenas está completo, você está transbordando. E a questão de ir a algum lugar nem mesmo surge, porque onde você estiver, você estará no Todo, onde você estiver, você estará no mesmo oceano. Então uma tremenda transformação surgirá em você. Por todas as suas vidas passadas, num movimento contínuo, de um corpo para outro corpo, de uma vida para outra vida, sempre estão aí os mesmos desejos, a mesma cobiça, a mesma raiva, a mesma violência, a mesma competição, a mesma inveja. A palavra oriental para mundo é sansara. E sansara significa a roda. Você segue movendo-se numa roda. Ela é a mesma roda. Ela não vai a lugar algum. Você simplesmente está agarrado a algum raio da roda, e a roda segue movendo-se. Você pensa que está chegando a algum lugar, mas você não está chegando a lugar algum. Mas porque, continuamente, você pensa que está chegando a algum lugar, você nunca olha para dentro para ver que você já está onde você quer estar. O lar, pelo qual você está procurando, está dentro de você. E o deus, pelo qual você tem procurado, está dentro de você. Você é o maior tesouro de consciência em toda esta Existência. No momento em que você perceber a sua glória e esplendor, você verá a si mesmo na altura do Everest no céu, e você nem conseguirá conceber que algo mais ainda possa ser acrescentado. O seu preenchimento é tão completo que virá uma parada absoluta, e essa parada se tornará uma explosão de iluminação, de despertar da sua natureza búdica. O que aconteceu a você é tremendamente belo. Permita que isso aconteça mais e mais. Vá mais fundo nessa parada, vá ainda para mais longe do movimento e você estará mais próximo de si. Não seja pego novamente na teia da mente. Fique atento pois ela logo tentará lhe pegar. Você pode ter tido uns poucos vislumbres, mas ela imediatamente tentará agarrar você de volta e não lhe permitir mais do que pequenos vislumbres. De novo um desejo surgirá, de novo o amanhã se tornará real, de novo o futuro se tornará significante e o movimento e o processo de pensamentos... E toda a mente estará de volta. Aprofunde suas experiências. Deixe que elas aconteçam mais vezes. Esse é o propósito de todas as meditações que estão acontecendo aqui: trazê-lo a uma parada total. Então, de repente, a energia que estava se movendo para fora, começa a se assentar internamente. Quando todas as suas forças vitais estiverem centradas na verdadeira raiz de seu ser, você começará a crescer numa nova direção. Agora, isso não será um movimento, será um crescimento. Movimento é sempre horizontal e crescimento é vertical. As árvores crescem verticalmente, você se movimenta horizontalmente. O mundo é horizontal e a espiritualidade é vertical. Uma vez que as suas energias estejam todas concentradas nas raízes, surgirão novos brotos, novas folhagens, novos ramos, e você começará a mover-se para cima, em direção às estrelas. E esse não é o velho movimento, este é um fenômeno totalmente diferente. O movimento horizontal nós conhecemos, é quando dizemos que alguém está ficando velho. O movimento vertical é quando nós dizemos que alguém está crescendo. Simplesmente tornar-se velho não irá levar você a lugar algum, a não ser à morte e a uma nova vida com os velhos desejos novamente... o mesmo círculo. Uma vez que a sua vida começa a expandir-se, ao invés de movimentar-se, ela toma uma dimensão totalmente diferente, para cima, contra a gravitação deste mundo, em direção ao céu aberto. E somente nessa expansão, um dia, a sua potencialidade irá desabrochar. No dia em que você vir as suas flores se abrindo e liberando sua fragrância, você irá conhecer pela primeira vez alguma coisa que pode ser chamada de espiritual. E isso não é uma meta. As árvores não estão crescendo atrás de alguma meta, elas estão crescendo em direção ao seu potencial, o qual é intrínseco, oculto nelas. Elas querem chegar a um ponto onde aquilo que está oculto se torne disponível para toda a existência, aquilo que está numa semente se torne uma flor. A iluminação é o seu florescimento. A meditação levará você ao ponto onde a sua existência tomará uma nova dimensão, a dimensão da iluminação. Você pode chamar isso de sat-chit-anand. " OSHO - Sat-Chit-Anand - Truth-Consciousness-Bliss - discourse nº 22 tradução: Sw.Bodhi Champak

A incompletude no relacionamento

O relacionamento com meu namorado é bom, mas eu continuo pensando no namorado que eu tinha antes... Aceite isto também. É natural, não há porque se preocupar. Se você começar a se preocupar, então você estará criando uma barreira. Isto é natural. O que você pode fazer? Algumas vezes o passado desce como uma sombra sobre você. Tudo bem. Aceite isso, é o seu passado. Algumas vezes as sombras do passado se movem porque não aprendemos ainda como viver cada momento totalmente, por isso, momentos incompletos permanecem enganchados dentro de nós. Você esteve namorando alguém, mas você nunca viveu totalmente aquele amor, por isso alguma coisa incompleta almeja a conclusão e essa idéia volta repetidas vezes. Não é exatamente a idéia de seu ex-amante ou seu ex-namorado. Na verdade é a idéia de que você não completou o que estava batendo em sua porta. Assim, complete aquilo em fantasia, e isto é tudo. É o que a mente está fazendo. Não empurre isto para o lado, senão vai continuar voltando mais vezes. Dê vinte e três horas para o seu novo namorado e uma para o antigo. Por uma hora simplesmente feche os olhos, esteja com ele e, pelo menos em fantasia, complete aquilo. Em poucos dias você verá que estará se sentando e uma hora terá passado sem que aquele antigo namorado tenha vindo. Simplesmente complete aquilo. O que está ocorrendo é incompletude, por isso a persistência. Uma vez completado, ainda que em fantasia, ele se extingue.E não cometa o mesmo erro com o novo namorado, porque, quem sabe, algum dia ele pode se tornar um ex-namorado. Esteja com ele tão totalmente que quando você estiver com um outro alguém, o novo namorado não irá aborrecer você. Certo? Neste momento isto é difícil de ser entendido, mas aquela memória contínua simplesmente está mostrando que você não estava com seu namorado totalmente, por isso não cometa o mesmo erro agora. Caso contrário, seus ex-namorados vão começar a fazer uma fila e não irão deixar você ficar com mais ninguém. O número deles irá crescer cada vez mais e eles se tornarão uma multidão. Eles não deixarão espaço para o namorado seguinte. E quando você estiver na fantasia pensando em seu antigo namorado, não se sinta culpada, porque essa conta tem que ser fechada. Assim, o que você sentir vontade, faça. Pelo menos em fantasia, ame-o de modo que possa lhe dizer adeus. Ninguém consegue dizer adeus a experiências incompletas, nunca. Somente uma experiência completa pode ser largada. Você consegue sair dela exatamente como uma cobra abandona sua velha pele e nem olha para trás. Senão você continuará sempre olhando para trás. Alguma coisa fica enganchada. Isto é uma ressaca, mas aprenda com ela. Quando estiver com o novo namorado, esteja totalmente com ele. Desta vez seja total, e se você for total pode acontecer que você não tenha que procurar por um outro amor. Este pode ser seu eterno amor; a possibilidade está sempre presente. Mas, pelo menos, seja total. Ser eterno não é a questão, mas ser total. Ainda que o amor aconteça por um simples momento, se ele for total, ele é divino. E mesmo que você fique com um homem por toda a sua vida, se não for total, aquilo será feio. Não irá satisfazê-la e você não irá satisfazê-lo. Então, mergulhe nele e permita que ele mergulhe em você. Mas aquele antigo namorado necessita de um tempo, assim, dê este tempo a ele, e não se sinta culpada por isto. É preciso levar em conta o passado, a não ser que você comece a viver tão totalmente no presente que um passado nem seja criado. Então não haverá problema. Então cada momento completo é simplesmente largado na existência. E você não carrega nenhuma memória psicológica dele. Uma memória cronológica continuará, Love - Osho Zen mas nenhuma memória psicológica. E se você vier a cruzar com o seu namorado, você o reconhecerá, mas você não se lembrará de maneira alguma, não haverá fantasia com aquilo. Assim, faça a sua meditação de uma hora. Você deve algo ao seu antigo namorado. Complete aquilo. Nunca esteja em débito, coloque um fim nisto. E desta vez vá totalmente e profundamente.” OSHO – A Rose is a Rose is a Rose – Disc n° 24 Tradução: Sw. Bodhi Champak

quarta-feira, 28 de maio de 2008



Osho

Aprenda a ser paciente

O mestre Lu-Tzu diz: "O seu trabalho gradualmente se tornará
concentrado e maduro."

"O caminho do Tao não é o da iluminação repentina. Ele não é como o Zen. Zen é iluminação repentina, Tao é crescimento gradual. O Tao não acredita em mudanças repentinas e abruptas. O Tao acredita em respeitar o ritmo da existência, permitindo que as coisas aconteçam por elas mesmas, sem forçar o seu caminho, sem forçar o curso do rio. O Tao diz: não há necessidade de estar com pressa porque a eternidade está disponível para você. Plante as sementes no tempo certo e espere; a primavera virá; ela sempre vem. E quando a primavera vier, as flores aparecerão. Mas espere, não tenha pressa.
Não comece a puxar a árvore para cima, para que ela possa crescer mais rápido. Não tenha esse tipo de mente que pede para que tudo seja como café instantâneo. Aprenda a esperar, porque a natureza tem um movimento muito vagaroso. É devido a esse movimento vagaroso que existe graça na natureza. A natureza é muito feminina, ela se movimenta como uma mulher. Ela não corre nem fica apressada. Ela vai muito devagar, uma música silenciosa. Existe grande paciência na natureza e o Tao acredita no caminho da natureza. 'Tao' significa exatamente natureza. Assim o Tao nunca está com pressa; isto tem que ser entendido.
O ensinamento fundamental do Tao é: aprenda a ser paciente. Se você puder esperar infinitamente, a iluminação pode mesmo acontecer instantaneamente. Mas você não deve pedir para que ela aconteça instantaneamente: se você pedir, pode ser que nunca aconteça. O seu próprio pedido se tornará um obstáculo. O seu próprio desejo criará uma distância entre você e a natureza. Permaneça em sintonia com a natureza, deixe que a natureza tenha o seu próprio curso; e sempre que ela vem, ela é boa; sempre que ela vem, ela é rápida. Mesmo que ela demore séculos para chegar, ainda assim ela não está atrasada; ela nunca está atrasada. Ela sempre chega no momento certo.
O Tao acredita que tudo acontece quando é necessário; quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Quando o discípulo está finalmente pronto, Deus aparece. O seu valor, o seu vazio, a sua receptividade, a sua passividade tornam isto possível; não a sua pressa, não a sua correria, não a sua atitude agressiva. Lembre-se: a verdade não pode ser conquistada. É preciso entregar-se à verdade, é preciso ser conquistado pela verdade.
Mas toda a nossa educação, em todos os países, ao longo dos séculos tem sido de agressividade e de ambição. Nós tornamos as pessoas muito rápidas. Nós as tornamos muito medrosas. Nós lhe dizemos: 'tempo é dinheiro e é muito precioso. Se o tempo for perdido uma vez, ele ficará perdido para sempre, por isso corra; tenha pressa.'
Isto tem levado as pessoas à loucura. Elas correm de um ponto a outro; elas nunca curtem lugar algum. Elas correm ao redor do mundo de um hotel intercontinental a outro hotel intercontinental. E eles são todos iguais, não há diferença, esteja você em Tóquio, em Mumbai, em Nova York ou em Paris. Esses hotéis intercontinental são todos iguais, e as pessoas continuam correndo de um para o outro, pensando que elas estão viajando através do mundo. Elas poderiam ter se hospedado em apenas um hotel intercontinental e não haveria necessidade de ir a nenhum outro mais. Todos eles são iguais. E elas pensam que estão indo a algum outro lugar. A rapidez está tornando as pessoas neuróticas.

O Tao é o caminho da natureza, do jeito que as árvores crescem e os rios correm e os pássaros e as crianças... exatamente do mesmo jeito crescemos para Deus.
Não tenha pressa e não se desespere. Se você fracassar hoje, não perca as esperanças. Se você fracassar hoje, isto é natural. Se você continuar fracassando por alguns dias, isto é natural.
As pessoas têm tanto medo de fracassar que, devido a este medo, elas nunca arriscam fazer tentativas. Existem muitas pessoas que nunca se apaixonaram porque elas têm medo. Quem sabe? Elas podem ser rejeitadas, por isso elas decidiram permanecer sem amar, assim ninguém jamais as rejeitará. As pessoas têm tanto medo de fracassar que elas nunca tentam qualquer coisa nova. Quem sabe? Se elas fracassarem, o que poderá ocorrer?
E naturalmente, para se movimentar no mundo interior, você terá que fracassar muitas vezes, porque você nunca se movimentou ali antes. Toda a


Paciência - Tarô Zen de Osho

sua habilidade e eficiência têm sido nos movimentos externos, na extroversão. Você não sabe como se movimentar internamente. As pessoas escutam as palavras 'movimente-se internamente, vá para dentro', mas isso não faz muito sentido para elas. Tudo o que elas sabem é como ir para fora, é como ir para o outro. Elas não conhecem qualquer caminho de volta para si mesmas. Por causa dos seus velhos hábitos, é muito provável que você fracasse muitas vezes. Não perca as esperanças. A maturidade chega vagarosamente. É certo que ela chega, mas isto leva um tempo. E lembre-se: para cada pessoa ela chegará num ritmo diferente, por isso não compare, não comece a pensar: 'alguém está se tornando tão silencioso, e tão feliz, e eu ainda não alcancei isto. O que está acontecendo comigo?' Não se compare com quem quer que seja, porque cada um viveu de uma maneira diferente em suas vidas passadas. Mesmo nesta vida, as pessoas têm vivido diferentemente. Por exemplo, um poeta pode ter mais facilidade em ir para dentro que um cientista; seus treinamentos são diferentes. Todo o treinamento científico é para ser objetivo, para se preocupar com o objeto, para observar o objeto, para esquecer a subjetividade. Para ser um cientista é preciso colocar-se completamente ausente do seu experimento. Ele não pode estar envolvido no experimento, não pode haver qualquer envolvimento emocional. É preciso estar completamente desapegado, como um computador. Ele não deve ser um humano, de jeito algum. Só assim ele será um verdadeiro cientista e será bem sucedido na ciência.
Um poeta tem uma habilidade totalmente diferente, ele fica envolvido. Quando ele observa uma flor, ele começa a dançar ao redor dela. Ele participa, ele não é um observador desapegado. Um dançarino pode vivenciar isto ainda com mais facilidade porque ele e a sua dança são apenas um e a dança é tão interna que o dançarino pode movimentar-se em seu espaço interior mais facilmente. Então, nas velhas e misteriosas escolas de mistérios do mundo, a dança era um dos métodos secretos. A dança era o fenômeno mais religioso, mas ela perdeu o seu significado tão completamente que ela quase caiu na polaridade oposta. Ela tornou-se um fenômeno sexual; a dança perdeu a sua dimensão espiritual. Mas lembre-se, tudo o que é espiritual, se fracassar, pode se tornar sexual; e tudo o que é sexual, se elevar-se, pode se tornar espiritual. Espiritualidade e sexualidade são irmãs gêmeas. Um músico pode ter mais facilidade que um matemático para entrar na meditação. Vocês têm habilidades diferentes, mentes diferentes e condicionamentos diferentes.
Por exemplo, um cristão pode ter mais dificuldade para meditar que um budista, porque com vinte e cinco séculos de meditação constante, o budismo criou uma certa qualidade em seus seguidores. Assim, quando um budista vem a mim, ele pode entrar em meditação muito facilmente. Quando um cristão vem, a meditação lhe é muito estranha, porque o cristianismo esqueceu-se completamente da meditação; ele só conhece prece.
A prece é um fenômeno totalmente diferente. Na prece, é necessário o outro; ela nunca pode ser independente. A prece é mais como o amor: ela é um diálogo. A meditação não é um diálogo; ela não é como o amor; ela é exatamente o oposto ao amor. Na meditação você fica totalmente só, nenhum lugar para ir, ninguém com quem se relacionar, nenhum diálogo, porque o outro não existe.Você é simplesmente você mesmo, totalmente você. Esta é uma abordagem completamente diferente.
Assim, tudo depende de suas habilidades, de sua mente, de seu condicionamento, de sua educação, da religião na qual você foi criado, dos livros que tem lido, das pessoas com as quais tem vivido, da vibração que criou dentro de si mesmo. Tudo dependerá de mil e uma coisas, mas é certo que ela chegará. Tudo que se precisa é paciência, trabalho silencioso, trabalho paciente e o centramento acontece e a maturidade chega. Na verdade, a pessoa madura e a pessoa centrada são apenas dois aspectos de um mesmo fenômeno. É por isto que a criança não consegue estar centrada, elas estão constantemente se movimentando, elas não conseguem ficar em um ponto, fixas. Tudo as atrai - um carro que passa, um pássaro que canta, o riso de alguém, o rádio do vizinho, uma borboleta voando - tudo, o mundo inteiro lhe atrai. Elas simplesmente pulam de uma coisa para outra. Elas não conseguem estar centradas, elas não conseguem viver com uma coisa tão totalmente que tudo o mais desapareça e se torne não-existencial.
Com a maturidade, o centramento surge. Maturidade e centramento são dois nomes para uma mesma coisa. Mas a primeira coisa a ser lembrada é que ela chega gradualmente. Não compare e não tenha pressa."

OSHO - The Secret of Secrets vol. II - Cap. 1
Tradução: Sw. Bodhi Champak