segunda-feira, 14 de julho de 2008

Paternalismo: o mal do Brasil


Luiz Antonio Gaspareto

Talvez o erro mais grave do chefe ou administrador é se colocar na posição de pai dos funcionários. "Ah, porque quando eu for chefe, vou ser bom com os meus empregados." Vai se danar, porque vão fazer dele gato e sapato, como fazem com pais e mães muito metidos a bonzinhos. O chefe, que você classifica como bom, nunca é o que dá moleza, nunca é o paternalista. O bom administrador, na verdade, é o que leva você a produzir, a tirar satisfação do próprio trabalho e não o que faz por você. Ele deixa você segurar o pepino, se envolver consigo e agüentar sua barra. Ele fica do lado. "Ah, agora você se vira. Vou esperar. Estou dando força para você se virar, para ser você."

Quando o chefe é paternalista, começa a assumir responsabilidades pelo funcionário, quer ajudá-lo na vida particular e se envolve. E ó empregado vem com desculpas, dores e problemas. Ele vai marcar consulta no horário de serviço. "Eu me viro no trabalho. Dou uma desculpa qualquer." Sabe que tem um burro como chefe. Ele não vai valorizar muito esse chefe. Vai enganar e tripudiar em cima o quanto puder. Segundo, qualquer problema de insatisfação vai se queixar de que ninguém reconhece o seu valor e que precisa ganhar mais. Se o patrão não der, ele se vinga, fala mal, mete o pau na empresa, faz complô, sabota o serviço, deixa o chefe na mão.

O empregado está certo, pois o patrão também não é uma pessoa respeitável. Não virou pai? Não se sacrifica para o filho ser feliz? "Pode judiar, porque a mamãe é lindinha. Faz tudo o que o filhinho quer." O empregado é a mesma coisa. Fica mimado, quer privilégios, daqui a pouco o patrão começa a ficar constrangido de dar uma ordem. Está pedindo licença para não incomodar. E o empregado passa a mandar no patrão, que vira empregado dele. O errado é o patrão. Pode ser uma pessoa até com certo potencial, mas não soube dirigir, perdeu. O ex-empregado vira inimigo, como o filho que descarrega em cima de pai e mãe, e eles ainda se sentem culpados.

O problema do Brasil empresarial está centrado no paternalismo piedoso, tanto da parte do empresário, do administrador, como de quem está sendo administrado. A relação é dolorosa, porque o empregado espera que o patrão tenha um comportamento afetivo de pai, que se responsabilize por ele, que fale direitinho com ele, que assuma as responsabilidades no lugar dele, tudo aquilo que ele queria do pai e da mãe. E daí o empregado tem uma relação infantil com o patrão ou chefe.

O paternalismo é a pior desgraça. Chega a tal ponto que a Justiça do Trabalho está literalmente contra o patrão, porque o empregado é coitadinho. Patrão tem que dar tudo, tem que pagar tudo, arcar com qualquer prejuízo que o empregado venha a causar na firma, tem que dar creche, convênio médico, cesta básica, vale-refeição, transporte.

Se o sindicato fosse realmente bom, iria cuidar dos seus membros, iria ele próprio garantir saúde, escola, curso de formação, de especialização, alguma coisa que realmente desse suporte e garantias ao profissional. Isso é encargo do sindicato. O patrão está ali para garantir o mercado de trabalho, cuidar da produção, e não para pensar no bem-estar do empregado no sentido social. Quem deveria pensar nisso é o sindicato, já que o governo se mostra incapaz de prover isso.

As negociações deveriam ser feitas entre sindicato e patrão num sentido diferente. O patrão poderia contra¬tar as pessoas por meio do sindicato, que ofereceria garantias ao empregador e ao empregado. Os sindicatos poderiam ser de vários tipos dentro de uma mesma ca¬tegoria, para que o empregado pudesse se filiar àquele que melhor lhe conviesse. As negociações seriam então mais equilibradas e também mais justas.

Se o funcionário é bom ou se é do tipo que prejudica e estraga a mercadoria, o sindicato é que deveria se responsabilizar por isso. Se ele estragar o meu produto, eu me queixo para quem? Pago o prejuízo agora, se eu não pagar um tostão dos direitos dele, estou perdido. Ele tira três vezes mais, pois o juiz e a lei são os paizinhos dos coitadinhos. Isso é paternalismo, falta de justiça entre os dois lados, e cria uma inimizade mútua. O indivíduo quer os direitos, sem pensar no que deve dar em troca. Claro que você, como empregado, merece mais. Mas você tem com que trocar os direitos exigidos? Quer mais salário, mas tem qualidade de serviço para dar em troca? Quem tem qualidade de serviço não está nem ligando para sindicato, nem para reivindicação, porque a própria qualidade de serviço do empregado já lhe garante um bom salário.

Na hora em que você, como patrão, tem que dispensar alguém, devido a alguma situação, nunca manda o melhor funcionário. Despede o menos qualificado. O mais qualificado, você quer manter para segurar a barra. Então, esse por si só se garante. Quem faz greve é por¬que não tem qualidade. Na verdade, acredito em sindicato, na reivindicação, que é um processo importante na nossa vida, mas muito mais no reconhecimento do próprio indivíduo, na emancipação do próprio empregado, pois exigência sem emancipação é ridículo. Ele exige direitos, mas se não melhora a sua qualidade de ser, então não adianta. A emancipação depende da qualidade do serviço que a gente troca. O sistema ainda é muito paternalista. E o conceito, por isso, é de uma mediocridade imensa.


Fonte: Livro –
Prosperidade Profissional
Autor:
Luiz Antonio Gaspareto
Editora:
Vida & consciência.

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