quinta-feira, 12 de junho de 2008


Velhos Padrões


Osho

Eu tenho que conhecer e entender as raízes de meus velhos padrões a fim de ser capaz de abandoná-los ou estar atento é suficiente?

Existe uma linha divisória entre a psicologia ocidental e o misticismo oriental. A psicologia ocidental é um esforço para entender as raízes de seus velhos padrões, mas ela não ajuda ninguém a se livrar deles. Você se torna mais inteligente, você se torna mais moderado, você se torna mais normal; sua mente não é mais uma grande desordem. As coisas estão acomodadas um pouco melhor do que elas estavam antes, mas cada problema permanece o mesmo - ele simplesmente ficou dormente. Você pode entender o seu ciúme, você pode entender a sua raiva, seus ódios, sua ganância, suas ambições, mas todo este entendimento permanecerá intelectual. Assim, mesmo os maiores psicólogos do ocidente estão muito longe dos místicos orientais.

O homem que fundou a psicologia ocidental, Sigmund Freud, tinha tanto medo da morte que mesmo a menção da palavra ‘morte’ era suficiente para lançá-lo numa coma; ele se tornava inconsciente, a paranóia da morte era tão grande. Isto aconteceu três vezes. Ele tinha tanto medo de fantasmas que ele não podia passar ao lado de um cemitério. Agora, um homem como Sigmund Freud que tinha uma tremenda acuidade intelectual, que conhecia toda a raiz da mente, que conhecia cada funcionamento sutil da mente, ainda permaneceu confinado na mente.

A consciência o leva para além da mente. Ela não se preocupa em entender os problemas da mente, suas raízes. Ela simplesmente deixa a mente de lado, ela simplesmente sai fora dela. Esta é a razão porque não houve desenvolvimento de psicologia no oriente. É estranho que por dez mil anos, pelo menos, o oriente esteve trabalhando consistentemente e intencionalmente no campo da consciência humana, mas ele não desenvolveu nenhuma psicologia, nenhuma psicanálise ou psicossíntese. É uma grande surpresa que por dez mil anos ninguém tenha nem mesmo tocado no assunto. Ao invés de entender a mente, o oriente desenvolveu uma abordagem totalmente diferente e sua abordagem foi se desidentificar da mente: "Eu não sou a mente." Uma vez que esta consciência se torna cristalina em você, a mente se torna impotente.

Todo o poder da mente vem da sua identificação com ela. Assim descobriu-se que é inútil cavar desnecessariamente pelas raízes, achar causas depois de causas, trabalhar através de sonhos, analisar sonhos, interpretar sonhos. E cada psicólogo encontra uma raiz diferente, encontra uma interpretação diferente, acha uma causa diferente. A psicologia ainda não é uma ciência; ela é ainda fictícia.

Se você vai a Sigmund Freud, seu sonho vai ser interpretado em termos sexuais. A mente dele está obcecada com sexo. Traga algo e imediatamente ele encontrará uma explicação que é sexual. Vá a Alfred Adler - o homem que fundou outra escola de psicologia, psicologia analítica - ele é obcecado por outra idéia: vontade de poder. Assim o que quer que você sonhe será interpretado de acordo com esta idéia - é vontade de poder. Vá para Carl Gustav Jung; ele interpreta cada sonho como um eco muito distante de suas vidas passadas. Sua interpretação é mitológica. E existem muitas outras escolas.

Um grande esforço foi feito por Assagioli - a psicossíntese - para unir todas estas escolas, mas a sua psicossíntese é totalmente inútil. Pelo menos a psicanálise tem alguma verdade nela e a psicologia analítica tem também alguma verdade nela; mas a psicossíntese é simplesmente uma mistura. Ela pegou uma parte de uma escola, outra parte de outra escola e as colocou juntas. Assagioli é um grande intelectual; ele conseguiu colocar as peças do quebra-cabeça nos lugares certos. Mas o que era significativo em Sigmund Freud era significativo em determinado contexto; este contexto não está mais lá. Ele apenas pegou o que parecia ser significativo, mas sem o contexto ele perde todo o significado. Por esta razão, Assagioli trabalhou toda a sua vida por alguma síntese, mas ele não foi capaz de criar alguma coisa significante. E todas estas escolas trabalharam duro.

Mas o oriente simplesmente deixou a mente de lado. Ao invés de achar as causas e raízes e razões, eles acharam uma única coisa: de onde a mente consegue o seu poder? De onde vem a energia para alimentá-la? A energia que alimenta a mente vem da sua identificação de que: "Eu sou isto!" Eles quebraram esta ponte. Isto é o que a consciência é: estar consciente de que: "Eu não sou o corpo, eu não sou a mente, eu não sou nem mesmo o coração - eu sou simplesmente pura consciência." À medida que esta consciência se aprofunda, se torna cristalizada, a mente passa a ter mais e mais uma existência de sombra. O impacto dela sobre você perde toda a força. E quando a consciência é cem por cento estabelecida, a mente simplesmente evapora.

A psicologia ocidental ainda tem que entender porque ela não está tendo sucesso. Milhares de pessoas atravessam a psicanálise e outros métodos terapêuticos, mas nem um único deles - nem mesmo os fundadores destas escolas - pode ser chamado de iluminado, pode-se dizer que não tenha problemas, pode-se dizer que não tenha ansiedades, angústias, medos, paranóia. Tudo existe neles como existe em você.

Sigmund Freud foi questionado muitas vezes por seus discípulos: "Você psicanálise todos nós; nós trazemos os nossos sonhos para você para serem interpretados. Será uma grande experiência se você nos permitir psicanalisá-lo. Você nos dá os seus sonhos e nós tentamos analisar e achar o que eles significam, de onde eles vêm, o que eles querem dizer." Mas Sigmund Freud nunca concordou com isto. Isto mostra uma imensa fraqueza em toda a estrutura da psicanálise. Ele tinha medo que eles encontrassem as mesmas coisas em seus sonhos que ele estava encontrando nos sonhos deles. Então sua superioridade como um fundador, como um mestre seria perdida.

Ele não estava consciente de pessoas como Gautama Buda ou Mahavira ou Nagarjuna. Porque estas pessoas não sonham, não existe nada para analisar. Estas pessoas chegaram tão longe da mente que todas as conexões foram cortadas. Eles vivem a partir da consciência, não a partir do intelecto. Eles respondem a partir da consciência, não a partir da mente e suas memórias. E eles não reprimem nada; desta forma não existe necessidade de nenhum sonho.

Sonhar é um subproduto da repressão. Existem tribos aborígenes onde as pessoas não sonham, ou se eles sonham, seus sonhos acontecem de vez em quando. Eles ficam surpresos de saber que as pessoas civilizadas sonham quase toda a noite. Em oito horas de sono, seis horas você está sonhando. E o aborígene está simplesmente dormindo oito horas em profundo silêncio, sem nenhum distúrbio. Sigmund Freud estava consciente apenas das pessoas doentes do ocidente, ele não estava consciente dos homens de consciência; caso contrário toda a história da psicologia ocidental poderia ter sido diferente.

Eu não lhe direi para você fazer um esforço para entender as raízes da sua mente e seus padrões; isto é simplesmente uma perda de tempo inútil. Somente estar consciente é necessário, mais do que suficiente. Quando você se torna consciente, você sai das garras da mente e a mente permanece quase como um fóssil morto. Não existe necessidade de se preocupar de onde a avareza vem, a questão real é como sair dela. A questão não é de onde o ego se originou - estas são questões intelectuais que não têm nenhum significado para um buscador.

E então haverá muitos pontos de vistas filosóficos - de onde a avareza se originou, de onde o ego veio; de onde o seu ciúme, de onde o seu ódio, de onde a sua crueldade veio - procurando pelos começos de tudo isto. E a mente é um enorme complexo; de fato, a vida é muito pequena para imaginar todos os problemas da mente e suas origens. Suas origens podem ser de milhares de vidas. Lentamente a psicologia ocidental está chegando perto disto - por exemplo, a terapia primal.

Janov entendeu que a menos que nós encontremos o começo dos problemas - e isto significava para ele, sendo um cristão, acreditando somente em uma vida, que as raízes deviam ser encontradas em algum lugar na infância. Assim ele começou trabalhando para lembrá-lo da sua infância e assim ele encontrou um novo fato - que pessoas profundamente hipnotizadas lembram não somente a sua infância, elas lembram também o seu nascimento. Eles também se lembram dos nove meses no útero da mãe e umas poucas pessoas muito sensíveis lembram até mesmo suas vidas anteriores.

Então ele mesmo se tornou temeroso, ele estava entrando em um túnel que parecia não ter fim. Você vai para a vida passada e esta levará você novamente, através de toda uma longa passagem, para outra vida. Sua mente é velha de muitas vidas, assim você não será capaz de encontrar as raízes dela no presente. Talvez você terá que viajar para trás através de milhares de vidas e isto não é uma coisa fácil. E então também, mesmo se você entender de onde a avareza veio, isto não traz nenhuma mudança. Você terá ainda que saber como abandoná-la. E existem tantos problemas que se você começar a abandonar cada problema separadamente você precisará de milhares de vidas para terminar completamente com a mente. E enquanto você resolve um problema, outros problemas estão crescendo, reunindo mais energia, mais vitalidade, mais influência. É um jogo muito estúpido.

No oriente, nem uma simples pessoa em todo o passado - na China, no Japão, na Arábia - nunca se preocupou com isto. Isto é lutar com sombras. Eles trabalharam a partir de um ângulo totalmente diferente e eles tiveram imenso sucesso. Eles simplesmente desidentificaram a consciência da mente. Eles permaneceram fora da mente como uma testemunha e descobriram um milagre acontecendo: enquanto eles se tomavam uma testemunha, a mente se tornava impotente, ela perdia todo o poder sobre eles. E não tinha nenhuma necessidade de entender nada.

A consciência vai crescendo mais alto e a mente vai diminuindo - na mesma proporção. Se a consciência está nos cinqüenta por cento então a mente é cortada em cinqüenta por cento. Se a consciência é setenta por cento, somente trinta por cento de mente permanece. No dia que a consciência é cem por cento, não há nenhuma mente a ser encontrada de nenhuma forma.

Por isto, toda a abordagem oriental é para achar o estado de não-mente - aquele silêncio, aquela pureza, aquela serenidade. E a mente não está mais lá com todos os seus problemas, com todas as suas raízes; ela simplesmente evaporou do mesmo modo como as gotas de orvalhos evaporam no sol da manhã, não deixando nenhum traço para trás. Por isto eu direi para você, a consciência não é somente suficiente, ela é mais do que suficiente. Você não precisa nada mais.

A psicologia ocidental ainda não tem um lugar para a meditação, e é por isto que ela se mantém dando voltas e voltas, não achando nenhuma solução. Existem pessoas que foram psicanalisadas por quinze anos. Eles gastaram fortunas - porque a psicanálise é a profissão mais bem paga. Quinze anos na psicanálise e tudo o que aconteceu é que eles se tornaram viciados na psicanálise. Agora elas não podem permanecer sem a psicanálise. Ao invés de resolver qualquer problema, um novo problema surgiu. Agora isto se tornou quase como um vício por drogas. Assim quando elas ficam fartas de um psicanalista, elas começam com um outro. Se elas não estão sendo psicanalisadas, então elas sentem que alguma coisa está faltando.

Mas a psicanálise não ajudou ninguém. Mesmo eles aceitam que não existe um simples homem em todo o ocidente que foi completamente analisado. Mas tal é a cegueira das pessoas que elas não podem ver um simples fato, por que não existe uma única pessoa - quando existem milhares de psicanalistas analisando pessoas - que foi perfeitamente analisada e que foi além da mente?

A análise não pode levá-lo além da mente. O caminho para além da mente é a consciência, o caminho para além da mente é a meditação. A meditação é um caminho simples e criou milhares de pessoas iluminadas no oriente. E estas pessoas não estavam fazendo nada com a mente, elas estavam fazendo uma outra coisa: elas estavam simplesmente se tornando atentas, alertas, conscientes. Elas estavam usando a mente também como um objeto.

O modo como você vê uma árvore, o modo como você vê colunas, o modo como você vê outras pessoas - elas estavam tentando ver a mente também como separada, e tiveram sucesso. E no momento que elas tiveram sucesso de ver a mente como separada, isto foi a morte da mente. Em seu lugar nasceu a claridade; o intelecto desapareceu, a inteligência surgiu. Você não precisa reagir a nada, você responde. A reação é sempre baseada em suas experiências passadas e a resposta é como um espelho: você vem para a frente dele e ele responde, ele mostra a sua face. Ele não carrega nenhuma memória. No momento que você foi embora, ele é novamente puro, nenhum reflexo.

O meditados se torna finalmente um espelho. Qualquer situação é refletida nele e ele responde no momento presente, a partir da presença. Por isto, toda resposta sua tem uma novidade, um frescor, uma clareza, uma beleza, uma graça. Não é uma velha idéia que ele está repetindo. Isto é algo a ser entendido, que nenhuma situação é sempre exatamente a mesma de qualquer outra situação que você encontrou antes. Assim se você está reagindo a partir do passado, você não será capaz de enfrentar a situação; você ficou muito atrás.

Esta é a causa de seu fracasso. Você não vê a situação, você está mais preocupado com a sua resposta; você está cego para a situação. O homem de meditação está simplesmente aberto, com os seus olhos disponíveis para ver a situação e deixar a situação provocar a resposta nele. Ele não está carregando uma resposta pronta.

Uma linda história sobre Gautama Buda... Uma manhã um homem perguntou a ele: "Existe um Deus?" Buda olhou para o homem, olhou dentro e seus olhos e disse: "Não, não existe nenhum Deus."

Neste mesmo dia, à tarde, outro homem perguntou: "O que você acha de Deus? Existe um Deus?" Novamente ele olhou para o homem e para dentro de seus olhos disse: "Sim, existe um Deus."

Ananda, que estava com ele, tornou-se muito confuso, mas ele sempre era muito cuidadoso para não interferir em nada. Ele tinha o seu tempo quando todo mundo partia à noite e Buda estava indo dormir; se ele tinha que perguntar alguma coisa, ele poderia perguntar neste momento.

Mas à noite, enquanto o sol estava se pondo, um terceiro homem veio com quase a mesma questão, formulada diferentemente. Ele disse: "Existem pessoas que acreditam em Deus, existem pessoas que não acreditam em Deus. Eu por mim mesmo não sei com quem eu devo ficar. Ajude-me."

Ananda estava agora escutando muito concentradamente o que Buda diria. Ele deu duas respostas absolutamente contraditórias no mesmo dia e agora uma terceira oportunidade surgiu - e não existe uma terceira resposta. Mas Buda deu uma terceira resposta. Ele não falou, ele fechou os seus olhos. Era uma linda noite. Os pássaros tinham se acomodado em suas árvores - Buda estava em baixo de uma mangueira - o sol se pôs, uma brisa fresca estava começando a soprar. O homem, vendo Buda sentando com os olhos fechados, pensou que talvez esta é a resposta, assim ele também se sentou com os olhos fechados.

Uma hora se passou, o homem abriu os olhos, tocou os pés de Buda e disse: "Sua compaixão é enorme. Você me deu a resposta. Eu sempre permanecerei grato a você."

Ananda não podia acreditar, porque Buda não falou uma simples palavra. E quando o homem foi embora, perfeitamente satisfeito e contente, Ananda perguntou a Buda: "Isto é demais! Você poderia pensar em mim - você me deixa louco. Eu estou à beira de um colapso nervoso. Para um homem você diz que não existe Deus, para outro homem você diz que existe Deus e para um terceiro você não responde. E este estranho seguidor diz que ele recebeu a resposta e está perfeitamente satisfeito e grato e toca os seus pés. O que está acontecendo?"

Buda disse: "Ananda, a primeira coisa que você tem que se lembrar é, estas não eram as suas questões, estas respostas não foram dadas para você. Por que você se interessou desnecessariamente pelos problemas das outras pessoas? Primeiro resolva seus próprios problemas."

Ananda disse: "Isto é verdade, estas não eram minhas questões e as respostas não foram dadas para mim. Mas o que eu posso fazer? Eu tenho ouvidos e escuto e eu escutei e vi e agora todo o meu ser está confuso - o que é certo?"

Buda disse: "Certo? Certo é consciência. O primeiro homem era um teísta. Ele queria o meu apoio - ele já acreditava em Deus. Ele veio com a resposta pronta, apenas para solicitar o meu apoio de modo que ele pudesse ir e dizer: ‘Eu estou certo, o próprio Buda pensa assim.’ Eu tinha que dizer não para ele, apenas para perturbar a sua crença, porque crença não é sabedoria. O segundo homem era um ateísta. Ele também veio com uma resposta pronta, que não existe nenhum Deus e ele queria o meu apoio para fortalecer a sua descrença, de modo que ele pudesse continuar proclamando ao redor que eu concordo com ele. Eu tive que dizer para ele, ‘Sim, Deus existe.’ Mas o meu propósito era o mesmo.

"Se você vê o meu propósito, não existe nenhuma contradição. Eu estava perturbando a crença preconcebida do primeiro homem, eu estava perturbando a descrença preconcebida da segunda pessoa. Crença é positiva, descrença é negativa, mas ambas são a mesma coisa. Nenhum deles era um sábio e nenhum deles era um humilde buscador; eles já estavam carregando um preconceito.

"O terceiro homem era um buscador. Ele não tinha preconceito, ele abriu o seu coração. Ele me disse: ‘Existem pessoas que acreditam, existem pessoas que não acreditam. Eu mesmo não sei se Deus existe ou não. Ajude-me.’ E a única ajuda que eu poderia dar era lhe ensinar a lição da consciência em silêncio; as palavras eram inúteis. E quando eu fechei meus olhos ele entendeu a dica. Ele era um homem de certa inteligência - aberto, vulnerável. Ele fechou os seus olhos.

"À medida que eu fui mais profundo no silêncio, como ele se tornou parte do campo de meu silêncio e minha presença, ele começou a se mover para dentro do silêncio, para dentro da consciência. Quando uma hora se passou, parecia como se apenas alguns minutos tinham se passado. Ele não recebeu nenhuma resposta em palavras, mas ele recebeu uma autêntica resposta em silêncio: não se preocupe com Deus; não importa se Deus existe ou não existe. O que importa é se o silêncio existe, a consciência existe ou não. Se você está silencioso e consciente, você mesmo é deus. Deus não é uma coisa muito distante de você; ou você é uma mente ou você é um deus. Em silêncio e consciência a mente se funde e desaparece e revela a sua divindade para você. Apesar de eu não ter falado nada para ele, ele recebeu a resposta e recebeu-a da maneira correta."

A consciência o traz para um ponto onde você é capaz de ver com os seus próprios olhos a derradeira realidade de si mesmo e do universo... e a miraculosa experiência de que você e o universo não estão separados, que você é parte do todo. Para mim este é o único significado de sagrado.

Você foi treinado para analisar, para entender, para ginásticas intelectuais. Estas coisas não irão ajudar ninguém; elas nunca ajudaram ninguém. É por isto que o ocidente não tem uma das dimensões mais preciosas - da iluminação, do despertar. Toda a sua riqueza não é nada comparada com a riqueza que vem da iluminação, que vem atingindo-se o estado de não-mente.

Assim não se enrede com a mente; ao contrário, se torne uma testemunha ao lado da estrada e deixe a mente passar pela estrada. Logo a estrada estará vazia. A mente vive como um parasita. Você está identificado com a mente e isto é a fonte de vida dela. A sua consciência corta a conexão e se torna a morte da mente.

As antigas escrituras do oriente dizem que o mestre é uma morte - uma afirmação muito estranha, mas de imenso significado. O mestre é uma morte porque a meditação é a morte da mente, a meditação é a morte do ego. A meditação é a morte de sua personalidade e o renascimento e ressurreição de seu ser essencial. E conhecer aquele ser essencial é conhecer tudo.

Becky Goldberg telefonou para o gerente do hotel. "Eu estou aqui no quarto quinhentos e dez", ela gritou raivosamente, "e eu quero que você saiba que existe um homem caminhando no quarto da frente completamente nu e as venezianas do quarto dele estão levantadas."

"Eu vou subir imediatamente", disse o gerente. Ele entrou no quarto de Becky, olhou pela janela e disse: "Você está certa, madame, o homem parece estar nu. Mas a janela ainda cobre-o da cintura para baixo, não importa onde ele esteja no quarto."

"Ah sim", berrou Becky. "Experimente ficando em pé na minha cama, experimente!"

A mente é um cara estranho. Onde não existe problema, ela cria um problema. Por que você deveria ficar em pé na cama? Somente para descobrir que alguém está nu no quarto dele? Tem-se que ficar consciente de toda esta estupidez da mente. Eu não concordo com a teoria da evolução de Charles Darwin, mas eu tenho um certo respeito pela teoria, porque pode não ser historicamente verdade que os macacos se tornaram homens, mas psicologicamente é certamente verdadeiro - porque a mente do homem é como a do macaco... estúpida de todas as formas.

Não existe nenhuma utilidade em cavar fundo no lixo da mente. Ela não é o seu ser, ela não é você; ela só é a poeira que você acumulou através de muitas e muitas vidas ao seu redor.

Uma jovem mulher foi ao médico, preocupada que ela tinha gangrena por causa de dois pequenos pontos, um em cada uma de suas coxas. O médico examinou-a cuidadosamente e então lhe disse que não era gangrena e ela não tinha nada com o que se preocupar. "Mas por falar nisto", ele perguntou à garota enquanto ela estava se despedindo, "seu namorado é um cigano?"

"Sim", respondeu a garota, "de fato ele é."

"Bem", disse o médico, "diga-lhe que os brincos deles não são de ouro."

Este é o funcionamento da mente - ela é uma grande descobridora.

A velha definição de um filósofo é que ele é cego, em uma noite escura, em uma casa escura onde não existe luz e ele está procurando por um gato preto que não está lá. Mas isto não é tudo: ele o encontra! E ele escreve grandes tratados, teses, sistemas, prova logicamente a existência do gato preto.

Tome cuidado com a mente: ela é cega. Ela nunca soube nada mas ela é uma grande impostora. Ela pretende que sabe tudo.

Sócrates dividiu a humanidade em duas classes. Uma classe ele chamou de ignorantes instruídos: pessoas que pensam que sabem e são basicamente ignorantes; este é o resultado da mente. E a segunda categoria ele chamou de ignorantes sábios: pessoas que pensam assim: "Nós não sabemos." Em sua humildade, em sua inocência, desce a sabedoria.

Assim existem simuladores de conhecimento - esta é a função da mente - e existem humildes que dizem: "Nós não sabemos." Em sua inocência existe conhecimento e este é o resultado da meditação e consciência.


Fonte: Livro –
Osho, O livro da cura
Tradução:
Sw Dhyan Yukti
Editora:
Shanti

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